O acidente aéreo no centro de São José

De tempos em tempos é lembrado o acidente de avião no centro de São José que vitimou o Tenente Aécio Souza, tendo muitas informações dispersas e desencontradas, misturas de fatos e épocas, então reuni aqui tudo além das matérias de jornais da época, imagens e relatos enriquecedores desta tragédia ocorrida em 1947.

Um abuso que precisa ser coibido

Aviões que passam raspando os telhados. Um avião noturno desperta a população.
Já, certa vez, destas colunas, reclamamos contra o inqualificável abuso de certos aviadores fazerem com seus aparelhos, sobre a cidade, a altura de 50 metros e menos, acrobacias e exibições perigosas, pondo em sobressalto População. Entretanto, tais abusos, se bem que, recebem a condenação de toda a população, continuam a ser praticados sem o menor, respeito pela tranquilidade pública, sobretudo numa estância onde centenas de doentes precisam de tranquilidade e repouso.
Agora, dia 6, a população foi despertada as 24 horas com o ruído de um avião que sobrevoava a cidade, como que perdido no espaço, sem rumo certo, a procura da pista para aterrar. Ora esse fato, se reveste de grande gravidade, tanto mais que, ao que parece, tais exibições são proibidas pelo regulamento aeronáutico.
Tais abusos estão reclamando uma enérgica providência das autoridades competentes, neste caso o Ministério da Aéronautica, a quem dirigimos um apelo no sentido de adotar as providências que a caso requer, livrando-nos dos constantes perigos a que estamos expostos.

Correio Joseense, 17 de março de 1946, Ano XXI, Num. 1114

Abuso que precisa ser coibido

A nossa nota sobre os abusos que certos aviadores praticam, sobrevoando a cidade, de dia e à noite, teve grande repercussão, tal a sua oportunidade.

Inúmeras foram as demonstrações de solidariedade e de aplausos que recebemos, o que foi motivo de sincero desvanecimento para nós, e também de encorajamento para novos protestos se tais abusos se repetirem.

Aliás, não esperávamos outra coisa, dado que ao redigirmos a nossa noticia, o fizemos levando em conta os comentários que se faziam, de protesto já se vê, contra tais exibições, as quais constituíam uma ameaça a nossa tranquilidade e ao nosso sossego.

Correio Joseense, 24 de março de 1946, Ano XXI, Num. 1115

Do Aeroclube à População Joseense

O Aeroclube de São José dos Campos sente-se no dever de comunicar a todos que nada tem a ver com os voos á baixa altitude realizados ultimamente sobre a nossa cidade, pois que os mesmos são sempre executados por aviões militares em trânsito, e não pelos aparelhos de sua Escola de Pilotagem: Por outro lado, nenhuma responsabilidade lhe cabe quanto ao avião que sobrevoou a cidade ha noite de 6 do corrente, posto que naquela data estava, assim como todos os Aeroclubes do país, com suas atividades paralisadas e com suas instalações no Aeroporto fechadas, por determinação do Ministério da Aeronáutica, Outrossim, tem a satisfação de anunciar que após minucioso exame realizado pelas autoridades competentes nas fichas existentes no Departamento da Aeronáutica Civil, o sr. Ministro da Aeronáutica autorizou o reinicio dos voos em cerca de dez aeroclubes julgados perfeitamente aparelhados para satisfazerem aos seus elevados objetivos! entre os quais foi incluído o de São José dos Campos, único em todo o Vale do Paraíba, que assim continuará O seu trabalho sadio, como fator preponderante de progresso, e não como elemento perturbador da tranquilidade de nossa gente.

São José dos Campos, 20 de Março de 1946. St. Antônio Álvaro de Toledo 1.o Secretário

Correio Joseense, 31 de março de 1946, Ano XXI, Num. 1116

Doloroso e impressionante desastre de avião

Dia 28, quarta-feira, pouco mais de meio dia, a nossa cidade foi alarmada com a notícia de um desastre de aviação, tendo acorrido ao local do sinistro, milhares de pessoas, sendo que muitas destas ainda puderam ver os dois protagonistas do triste acontecimento, prensados sob as ferragens do avião, as quais, procuraram dispensar os socorros possíveis no momento.

O triste e impressionante acontecimento que fora por nós previsto, quando não há muito tempo reclamamos contra o abuso de certos aviadores que sobrevoavam a cidade raspando os telhados e fazendo perigosas acro bacias, encheu de profunda consternação toda a população, não só pelo que ele apresenta de emocionante mas também pelo conceito e estima que os dois jovens pilotos desfrutavam nos meios aviatórios e sociais da cidade, onde os mesmos se iniciaram na carreira que esposaram.

O lamentável desastre que culminou com a morte da jovem joseense, o aspirante Aécio Lemes de Souza e ferimentos de certa gravidade no jovem tenente José Maldonado Campoy, segundo informes colhidos no local, teria se passado da seguinte forma.

Pilotando um avião de treinamento do Exército deixaram a capital da República em demanda a esta cidade, os jovens tenente José Maldonado Campoy e o aspirante Aécio Lemes de Souza, os quais, antes de se dirigirem ao campo de aviação, fizeram algumas evoluções sobre a chácara de residência da família Campoy, no centro da cidade, como era costume do primeiro fazer todas vezes que vinha a esta cidade. Esses voos eram sempre feitos sob baixa altura, o que não raro punha em sobressalto a população, que previa mais dias menos dias o desastre. E o inevitável aconteceu, infelizmente, enlutando um lar e levando a outro a intranquilidade e o desassossego.

O avião que sobrevoava à baixa altura, depois de fazer varias evoluções, em dado momento chocou-se com uma árvore localizada no quintal da residencia do sr. José Nossi, quintal esse que divide com a chácara da família Campoy, tendo por essa ocasião partida a sua asa direita que foi foi projetada sobre o prédio da rua Vilaça, esquina da rua Cel. Monteiro. Descontrolado o avião, seguindo o seu curso, passou raspando os sobradinhos da rua Vilaça para precipitar-se ao solo num terreno sem construção que divide com o quintal da residencia do sr. Ricardo Marcondes, onde penetrou, afastando parte do muro, o que causou verdadeiro pânico à família deste e dos seus vizinhos.

Em poucos segundos toda a cidade era conhecedora da lamentável ocorrência, para ali acorrendo. Alguns populares, inclusive o sr. Laurentino Lemes de Souza, pai do inditoso aspirante, que reside naquelas imediações, acudiram com toda a presteza, retirando os dois aviadores que se achavam imprensados dentro da cabine, fazendo os remover em continente para a Santa Casa de Misericórdia, onde foram prestados aos mesmos os socorros adequados; pois ambos achavam-se em estado de choque. Entretanto, mau grado os esforços dos médicos, das enfermeiras e de todos quantos puderam prestar auxílio às vitimas, o aspirante Aécio Lemes de Souza que não retornou á lucidez, faleceu ás 23:30 horas da noite.
O tenente José Maldonado Campoy, após ter experimentado algumas melhoras e recobrado os sentidos, foi transportado para São Paulo para ser internado no Hospital Militar, estando, ao que parece, felizmente, fora de perigo: Eis em linhas gerais o que foi o lutuoso e triste acontecimento…

O FUNERAL DO DESVENTURADO ASPIRANTE AÉCIO LEMES DE SOUZA

Uma nota impressionante foi, sem dúvida, os funerais do inditoso jovem aspirante Aécio Lemes de Souza, roubado tragicamente ao convívio dos seus. Toda a cidade participou do grande préstito que se formou em frente a residência dos seus pais, à Rua Sebastião Humel, de onde saiu o caixão mortuário, prestando assim ao querido jovem joseense as mais expressivas e justas homenagens. Uma multidão calculada, sem exagero, para mais de 1.500 pessoas acompanhou os despojos do inditoso moço, na mais pungente demonstração de sentimento pelo infausto acontecimento, tendo também comparecido um pelotão do Regimento Ipiranga, que prestou as honras militares ao jovem aspirante. Senhoras, senhorinhas e cavalheiros de todas as condições Sociais acompanharam o féretro até a Igreja Matriz e dai ao cemitério municipal. Ao baixar a sepultura vários oradores fizeram-se ouvir, lamentando o triste acontecimento. Sob o caixão mortuário viam se o pavilhão nacional e muitas flores e coroas.

O aspirante Aécio Lemes de Souza contava 23 anos de idade e era filho do conceituado cirurgião dentista sr. Laurentino Lemes de Souza e de sua esposa d. Tereza Cebiante Souza.

À família do desditoso jovem, os nossos sinceros sentimentos de profundo pesar.

Correio Joseense, 02 de fevereiro de 1947, Ano XXII, Num. 1153

Aeronave monomotor de prefixo 0273, a unidade possuía dois assentos, estrutura de madeira e revestimento de tecido, equipada com motor Ranger de 175 cavalos.

LAMENTÁVEL DESASTRE DE AVIAÇÃO EM SÃO PAULO

UM AVIÃO MILITAR DE TREINAMENTO CAIU. FALECENDO UM DE SEUS TRIPULANTES, O ASPIRANTE LEMES DE SOUZA

Ocorreu um grave desastre de avião na cidade de São José dos Campos. Sobrevoava a cidade um avião de treinamento militar, prefixo PT 19 BOV 343-0273, quando bateu com a asa atreita numa árvore. caindo ao solo, espatifando-se. O avião caiu num quintal de uma residência danficando-a. Eram seus tripulantes o aspirante Aécio Lemes de Souza e o Tenente José Maldonado de Campos, que ficaram grave, mente feridos sendo transportados para a Santa Casa local. O aspirante faleceu momentos após ali chegar. O Tenente Campoy continua em estado gravíssimo. O Tenente Campos é instrutor de voo cego tendo feito o curso nos Estados Unidos.

O aspirante falecido era filho do sr. Laurentino de Sousa e da sra. Teresa de Souza, contava 23 anos e recebera o brevê há um mês.

Jornal do Brasil, 31 de janeiro de 1947, edição 26, pg. 48

Destaco alguns valiosos comentários feitos ao longo dos anos nas publicações que lembravam do ocorrido no grupo do São José dos Campos Antigamente no Facebook:

Aécio era filho do Dr. Laurentino Lemes de Souza (dentista Dr. Lau) Aécio era primo do meu pai Miguel Rodrigues.Por Alaide Rodrigues.

Alaide Rodrigues, o dr. Laurentino foi casado com minha avó Julieta. Foi o único “avô” que eu conheci. Boas lembranças dele.Por Ivelise Dias Caldieri.

Minha prima é viúva do Tenente Campoy (Nene). Eu lembro muito bem desse acidente, nessa época morava no largo da Matriz.Por Elenice Mudat.

Minha madrinha, à época com seis anos, estava em cima do muro da casa dela perto do local e viu o acidente. Só teve coragem de viajar de avião aos sessenta anos.Por Denise Savolet.

Dias antes do acidente, Faustino Nelson D’ávila (meu tio) havia ligado, avisando que talvez viesse a São José e que viria de carona no avião de Campoy. Felizmente, por aquelas coisas que só podem ser creditadas ao destino, na véspera da viagem ele ligou para seus pais dizendo que não poderia mais vir, pois tinha atividades a realizar na faculdade. Em seu lugar veio o aspirante Aécio Lemes de Souza“. Por Vitor Chuster.

O aspirante Aécio Lemes de Souza faleceu no acidente.

A história é verídica, o Ten. Aécio Lemes de Souza era meu tio. Não conheci, mas meus pais contaram sobre o acidente. Agradeço pela lembrança.Por Margô Straus.

A “árvore”, um eucalipto, ficava atrás da minha casa e tinha as marcas no tronco.Por Pedro Rachid Neto.

Até onde sei o avião bateu nos eucaliptos de uma chácara que havia perto da Vilaça, tudo indica que é onde hoje fica a UBS do Centro, ao lado do Bar do Coronel. Os eucaliptos continuam lá… Por Vera Malta Rendohl.

Caiu dentro do quintal da casa de minha amiga Joanita, na Vilaça. Família Capobiani. Só sei que ela quase morreu e nunca teve coragem de entrar num avião por causa desse acidente, e um dos pilotos que morreu, era da família Campoy. Uma parte da casa desabou e minha amiga que tinha uns 6 ou 7 anos na época não entra em um avião até hoje!Por Renata Braga.

Minha mãe está com 88 anos ela viu este acidente. O pai do piloto estava com câncer, e o filho voou para o Rio de Janeiro buscar um remédio para o pai, quando o avião estivesse passando de volta por cima a residência piloto fez um barulho com o motor do avião, Para avisar que o remédio estava a caminho, o avião bateu em uma árvore. Essa é a história que ainda conta para nós.Por Bete Urizzi.

registro em um site sobre aviação:
https://aviation-safety.net/wikibase/230852

O acidente foi com o meu tio Tenente aviador Aécio Lemes de Souza e seu companheiro Campoy.Por Francisco Henrique Manacorda.

Que lembrança! Eu tinha 6 para 7 anos de idade e caminhava com meu avô, pela Rua Antônio Saes, próximo ao cemitério do centro, quando passou um avião bem baixo, acompanhei com o olho e vi a hora que ele bateu com a asa, na copa de um eucalipto. Meu avô não viu, e quando comentei com ele, não acreditou. Só veio saber mais tarde quando os amigos dele comentaram. Guardo esta cena na memória até hoje. Estávamos a uns 100 metros da Rua Rubião Júnior e do cemitério. Eu ouvi o barulho, mas não foi muito forte. Meu avô nem notou, não me deu atenção e achou que era coisa de criança. Felizmente o avião não explodiu e não incendiou.Por Siqueira Batalhão de Suez.

Eu era muito pequena mas me lembro deste acidente, morava na rua Vilaça, foi um barulho horrível, o avião bateu nos eucaliptos que ficavam onde depois foi a casa da Dra. Terezinha e Dr. Francisco, depois de muitos voos rasantes.” Por Cida Edgard Hardt.

José Maldonado Campoy era tio de meu marido, Carlos Maldonado Campoy. Carlos diz que naquele dia ele vinha do Rio De Janeiro trazendo caixas com remédios usados para o tratamento da tuberculose. Quando por uma falha mecânica o motor falhou, perdeu altura e colidiu a asa com um eucalipto alto e chocou-se contra um muro. Tenente Aécio morreu e o Tenente José Maldonado Campoy ficou gravemente ferido. Sobreviveu e seguiu carreira posteriormente como comandante de linha aérea (Pan Air e depois VASP). Outro irmão do José Maldonado Campoy, de quem meu Marido herdou o nome, Carlos Maldonado Campoy também aviador, morreu em um acidente aéreo ao decolar do aeroporto Santos Dumont no Rio de janeiro, no dia 31 de dezembro de 1958.Por Catharina Andrade.

O Aécio Lemes de Souza era meu primo de segundo grau e filho do Dr. Laurentino (tio Lau) dentista que morava na esquina da Vilaça com a Sebastião Humel, que era tio de meu Pai Miguel Rodrigues. Eu na época presenciei essa cena e tinha 9 anos.Por João Hildebrando Rodrigues.

Meu avô me disse que o piloto era ousado e dizia que um dia cortaria o topo do pinheirinho, e segundo ele, foi o que infelizmente ocorreu, com o avião batendo em um galho no tal pinheirinho. Neste ano meu avô fazia entrega de remédios para uma farmácia e diz ter visto o acidente.Por Rodrigo Agueiro.

Minha mãe conta que o senhor que morava na casa falava que de acidente de avião jamais morreria, porque nunca entraria em um, pois não é que caiu na casa dele?” Por Ci Rene.

O local atualmente, na Rua Vilaça 234, em frente ao 2° cartório de registro de imóveis.
Documento enviado pelo pesquisador Rodrigo Dulze.
Rua do bairro Jd. Paulista que leva o nome do Tenente Aécio.

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