O assassinato dos irmãos Kubitzky (1969)

Meu pai, que foi investigador policial na década de 1970 ocasionalmente comentava sobre este ocorrido de 27 de junho de 1969, já que moramos no Jd. Paulista na década de 70. Eu era ainda muito criança… Mas não vem ao caso minhas impressões sobre o ocorrido, vamos acompanhar abaixo como foi o assassinato dos irmãos Kubitzky que chocou o Estado naquela época.

Membra do grupo SJC Antigamente, Vera Malta Rendohl trouxe seu relato referente ao histórico da família:

As famílias alemãs chegaram à cidade um pouco antes de 1910, para trabalhar na plantação de acácias que começava na área onde hoje é o CTA.

Arthur Kubitzky era o irmão deficiente físico e visual da família.

Ao final da 1ª Guerra Mundial a plantação foi abandonada, os trabalhadores foram embora, mas pelo menos uma família ficou na cidade – a Sra Frederica Kubitzky com seus 4 filhos. 

Toda a família Kubitzky está enterrada no Cemitério Padre Rodolfo (jazigo 2429 quadra 5): o pai (Hermann em 1910), a mãe (Frederica em 1956) e os 4 irmãos Erna, Elza, Arthur e Hermann Paul (que foram assassinados em 1969).

No livro São José dos Micuins Vitor Chuster cita na página 581, que a Sra Frederica ‘foi uma das mais conhecidas e importantes parteiras que São José já teve, e por suas mãos nasceram algumas centenas de joseenses.

Acompanhe agora, a matéria veiculada na revista Veja de 9 de julho de 1969

Na noite de sexta-feira, 27 de junho, antevéspera de São Pedro, por volta das 11 horas da noite, no mínimo dois homens foram à chácara Régio, no bairro operário do Jardim Paulista, a meia hora de carro de São José dos Campos, São Paulo. Era a chácara que o povo chamava “dos alemão” ou “dos antigos”, quatro velhos nascidos ali mesmo, mas que viviam isolados quase de todos: Artur, paralitico e já cego, 77 anos, Paulo, 75, conhecido por emprestar dinheiro a juros e vender aves e ovos aos feirantes do Mercado, Erna, professora formada na primeira turma de diplomadas em São José, em 1933, 68 anos e Elza, a mais moça, 58 anos. Os quatro membros da família Kubitzky, filhos da primeira parteira da cidade, Dona Frederica, falecida há doze anos, tinham tal veneração pela matriarca que nunca se casaram, de medo que o marido, ou esposa, pudesse desagradar a hamburguesa enérgica que comprara aquela chácara em fins do século passado. Os Kubitzky não dormiam cedo. Conversavam, brigavam, assistiam à televisão até tarde. Só Paulo e Artur pareciam já estar deitados. Quando suas irmās ouviram palmas lá fora, pediram que Paulo fosse atender.

Erna estava assistindo talvez à transmissão da escolha de Miss Guanabara pois as cidades do Vale do Paraíba, entre o Rio e São Paulo, captam bem os programas de ambas as capitais. Sua irmã Elza, sempre voltada para o espiritismo e curas milagrosas, estava sentada diante da mesa da sala de jantar, copiando. num velho caderno de caligrafia usado em cursos primários, receitas de plantas medicinais brasileiras contra aftas, dispepsia e reumatismo. Logo que Paulo. vestindo uma camisola de pano de saco de farinha, saiu, deve ter havido uma alteração com os visitantes. Em seguida o primeiro tiro foi disparado, mas não o atingiu. Em meio às bombas e foguetes das festas juninas nas chácaras vizinhas, passou despercebido o estampido. Assustado, o ancião correu para a porta lateral da casa, protegido pela quina de uma parede. Os criminosos correram atrás, abatendo-o com um tiro, calibre 38, que perfurou suas costas e foi sair perto do fígado. Erna, a irmā mais decidida, a “mandona”, que substituíra a mãe como líder da família. correu para a entrada, para ver o que estava acontecendo. Um tiro passou de raspão por ela e cravou-se na madeira carcomida da porta, que Erna fechou violentamente, desabalando para seu quarto no interior da casa modesta, onde guardava um revólver calibre 22 e uma garrucha 380. Sua irmã Elza, apavorada, perdeu um chinelo ao segui-la, gritando e buscando proteger-se dos criminosos detrás da porta do guarda-roupa. Numa tentativa desesperada, vendo que não tinha tempo de sacar a arma, Erna levantou um colchão contra o peito para defender-se. Mas os criminosos dispararam três tiros fulminantes contra ela: dois no ventre e um no antebraço direito, um dos quais a perfurou, indo cravar-se no chão. Liquidada a professora, os assassinos alvejaram Elza com um tiro só, calibre 32, que a atingiu na parte de trás da orelha esquerda, matando-a imediatamente. Enquanto o cadáver de Elza deslizava e ficava sentado no chão, inerte e empapado de sangue, fiapos da blusa de lã áspera e alaranjada prendiam-se nas farpas da penteadeira.

Apavorado com os gritos, as detonações e o barulho de móveis que caíam, o paralítico gritou. Os assassinos entraram em seu quarto, derrubando os seis urinóis espalhados pelo chão e sua “cadeira de judeu” — termo local para designar uma cadeira de encosto muito duro de madeira comum, com rodas nas pernas. Com um único tiro, calibre 38, no tórax do aleijado, os assassinos o silenciaram, cobrindo o cadáver ainda quente com um lençol. Consumado o massacre, revolveram a casa, deixando-a em completo caos, em busca dos milhões que se propalava que “os alemão” tinham guardados, ou em busca de promissórias grandes ou em busca de vingança pessoal. Essa é a reconstituição mais plausível, feita pela delegacia de polícia local.

Os habitantes de São José hesitam ao falar daquela noite de sexta feira em que ao estampido dos rojões da antevéspera de São Pedro somou-se a detonação de sete tiros na chácara isolada do mundo. Diante do Cine Palácio, que exibe “7 Dólares de Sangue” um funcionário da Prefeitura acha que “um crime desses é um pequeno tributo que a cidade tem que pagar pelo progresso”. Um velho chofer de táxi, que recorda o Paulo Alemão de tê-lo visto de longe, discorda: “Um Esquadrão da Morte é pouco, esses carrascos deviam ser executados em praça pública”. O crime é uma meada confusa, feita de fios diferentes: avareza, cobiça, vingança, e cada fio que se levanta propõe mais um enigma. Mas todo depoimento, toda pista é potencialmente importante, pode levar aos criminosos por caminhos tortuosos e insuspeitados. Uma luva preta encontrada caída na chácara e examinada sobre a mesa do perito criminal Romildo Inácio Maraldi de Oliveira; o túmulo de um amigo da família Kubitzky que um coveiro do cemitério informa ter sido visitado pelas irmãs todas as sextas feiras; um adolescente que levou uma coronhada de um bando de marginais empoleirados num Ford velho perto do local: tudo pode conduzir aos assassinos.

Embora a polícia tenha mobilizado dez investigadores e detido dez de quinze suspeitos, por enquanto como afirma o delegado Rubens Camargo, tragando cachimbo e passando as mãos sobre os cabelos precocemente brancos – “tudo são hipóteses apenas”. Todos se retraem na cidade normalmente hospitaleira e espontânea, quando se trata do crime. Alguns temem criticar a polícia local. desaparelhada para um crime nitidamente “de cidade grande” e inédito em todo o vale do Paraíba pelas suas proporções de sadismo. Outros, como os japoneses que praticamente monopolizam as barracas do velho mercado, negam terem visto sequer o Paulo Alemão, que, no entanto, todos os dias ia tomar um café com Seu Moreira e Seu Rafael Torres, o português e o espanhol seus fregueses que lhe compravam ovos, aves, repolhos, nos bons tempos em que a chácara produzia alguma coisa.

Com depoimentos conseguidos depois de generosas doses de caninha ou de uma confiança conquistada pouco a pouco, emergem, como num quebra-cabeça incompleto, as figuras das quatro vítimas, louras, de olhos azuis, que até há pouco tempo ignoravam a eletricidade (a luz da casa só foi ligada recentemente), sitiadas pelo progresso em meio às suas quinquilharias de 1920, presas às lembranças da mãe, a parteira Dona Frederica, que dominava o marido, o circunspecto Sr. Frederico, como sua filha Erna dominava os irmãos.

Para aumentar o caos de suposições e pistas falsas, os policiais e soldados, instalados na chácara, deixam cair isqueiros que só penosamente são identificados como seus, afastando-se a hipótese de terem pertencido às vítimas “que não fumavam”, ou aos criminosos. Os que conheceram os quatro Kubitzky integram, na grande maioria, o grupo dos que só os conheciam de vista, de longe: “eram gente séria e muito econômica”, é o cantochão que esse coro do óbvio entoa, Diferindo desse chavão, de lado a lado, como os bons e os maus nas pinturas antigas do céu e do inferno, os que apreciavam e os que detestavam “os alemão”. O que para o grupo dos raros amigos é “economia” passa a ser “avareza” para o dos inimigos, o que alguns chamam de “gente sem luxo” se transforma em “gente suja; que andava em andrajos”, para outros. Erna, líder do clã, dava tiros para o ar com sua garrucha 380 quando os meninos pobres da vizinhança vinham roubar frutas de seu pomar. “Es natural”, esclarece o feirante espanhol Rafael Torres, setenta anos de idade. “Si uno defiende lo suyo le roban todo a uno. La Señora Erna era muy decidida, no era como las cabritas de hoy que solo pasean con los hombres como mujeres bajas”. Já para a vizinha dos Kubitzky, a “figureira” Dona Eugênia da Silva, que faz bonequinhos de cerâmica para vender, “os alemão era gente amarrada em si, esmola pra brasileiro num dava, atirava pro alto xingando: “Vai trabalhar, vagabundo, eu nunca pedi dinheiro a ninguém!” Vista da casa modesta mas limpa e colorida de Dona Eugênia (mãe de dezesseis filhos, sete vivos), a chácara parece uma fazenda pacífica, com os muros rosa circundados de pinheiros e com a torre de televisão imensa, como único traço de união entre aqueles quatro velhos e o mundo. Nunca tinham sido vistos numa missa, num cinema, numa cerimônia pública. Só saíam para votar, para comemorar, como a professora Erna, 25 anos de formatura. Ou para ir ao mercado, aos bancos, à Prefeitura, como o Seu Paulo, que em companhia de seu advogado Milton Banhara (um taubateano de aspecto espanhol, o rosto longo e ovalado como as figuras de El Greco), depositava seu dinheiro ou o juro do dinheiro que emprestava a juros sem nunca registrá-los no Ministério da Fazenda. Dr. Banhara confirma que seu cliente e os irmãos eram ricos: deviam ter uns 50 milhões em bancos, além de dólares, libras, títulos, que guardavam no cofre comprado há um mês, a conselho dele mesmo e que os assassinos arrombaram e esvaziaram na casa depois do massacre. A chácara estava avaliada em uns 300 milhões, o terreno que venderam a uma associação esportiva em outros 50, dos quais uns 3 e meio recebiam mensalmente, além de quatro casas, num valor total de 200 a 250 milhões que tinham em São Paulo, em Caraguatatuba e em São José. “Era voz corrente na cidade”, confirma o advogado, “que eles tinham dinheiro escondido em casa. A mim, sempre o Seu Paulo pagava com notas mofadas, ainda úmidas de algum lugar abafado onde eram guardadas.” A caseira preta, Angelina Maria de Jesus, sussurra com medo em sua casa estreita, forrada de jornais alemães, um dos quais anuncia uma lírica “viagem de trem dos Alpes ao Reno”: “Eram gente ruim, só não levo remorso do aleijado. As mulheres dormiam com a roupa do corpo. Eu nunca tinha folga. Emagreci 3 por cento com a maltratação. Era gente arrelaxada. A vitrola quebrou? Guarda os discos. A televisão tá sem imagem? A geladeira não funciona? Um dia vamos endireitar. Mas guardavam comida até apodrecer na gaveta só para num dá pra nóis”. E falando de uma hipótese absurda: “Nem se me dessem 1 milhão eu não ficava aqui, o senhor sabe?

O comerciante Zé Pedro, do armazém Casa Paulistana, se defende das acusações que a gente de Jardim Paulista lhe faz de ser macumbeiro: “Dona Elza é que queria tirar o feitiço, o mau-oiado do irmão, que fez ele ficar paralítico. Só por isso fui no Marinheiro (curandeiro de São Paulo) e no padre milagreiro de Bragança, mas fui contra a vontade. No Zé Arigó de Minas não acompanhei eles não, eles foram com o Caetano (motorista da Kombi de Seu Paulo) que andou até em terreiros de São Paulo pra ver se tirava a coisa feita de cima do aleijado”.

É difícil imaginar a vida que essas quatro pessoas levavam, de janelas fechadas, desligadas do mundo, exceto pela televisão e pelo fio do telefone cortado pelos assassinos. A vizinha Dona Eugênia ouvia que eles discutiam até altas horas, viam televisão, todas as novelas, uma depois da outra: “Antônio Maria”, “Algemas de Ouro”, “Nino, o Italianinho”. Depois tudo voltava ao silêncio. Como na noite em que Dona Eugênia, única testemunha, senão ocular pelo menos auditiva, do crime, ao longe, não pode esquecer: “O menino acabava de chegar, olhei no relógio: 11 e 20. Ouvi a discussão, o tiro, cutuquei meu marido, ele disse pra eu não ligar, os alemão vivia atirando, brigando, Mas depois eu ouvi um berro selvagem, moço, parecia que tinham atirado num cavalo, num porco, sei lá, e o bicho relinchou. Não chamamos a polícia porque achamos que era melhor esperar o dia, mas não dormi bem. As 7 e 15 do sábado, pela fresta da porta, vi o caseiro passar pelo cadáver do alemão no quintal. Deu uma olhadinha e seguiu calmamente. Pelas chagas de Cristo! Quando eu perguntei pra mulher dele, a preta Angelina: ‘mataram alguém aí?’, ela respondeu: ‘não vi nada, né?’ Aí eu peguei e também disse que não tinha visto nada. Não adiantava mais mesmo”.

Dentro da Chácara Régio, uma desordem nojenta, anterior à desordem provocada (como pista falsa?) pelos ladrões/assassinos: bilhetes de Loteria de 1924, revistas “O Cruzeiro” de 1947, jornais “Deutsche Nachrichten”, da colônia alemā, jornais da época da inauguração de Brasília, instruções em alemão para o uso de máquina de costura Singer, de 1911, anjinhos de porcelana barata beijando-se ao lado de uma estampa cintilante de Iemanjá, a deusa das águas, e de São José com um ramo de oliveira e o Menino Jesus no colo. O bafo que ainda invade todos os aposentos não é só um bafo físico de bolor, é um cheiro de morte, de avareza, de decomposição em vida, um redor que a morte vem apenas tornar mais violento. Mas a morte também veio abrir aquelas janelas sempre fechadas. Os urinóis de Artur, o paralítico, foram atirados no quintal. E a fotografia da mulata que ele amou e que sua família encobriu, desde que ele passou a viver tolhido em casa, naquela casa, naquele quarto, naquela cadeira que parece um suplício medieval? As roupas andrajosas empilham-se no quarto de passar roupa. Os livros de flora medicinal e de espiritismo de Elza e o álbum de formatura de Erna misturar-se às contas e promissórias de Paulo. Cotações da libra e do dólar misturam-se aos vestígios de sangue sobre um alçapão mal tapado no chão.


É O mundo de Dostoievsky transportado para o interior do Brasil: o avarento pai dos irmãos Karamazov e a velha do penhor de “Crime e Castigo”, trucidados nas novelas como os Kubitzky na realidade. As semelhanças com “A Sangue Frio”, de Truman Capote, são acidentais: quatro mortos num sítio isolado. Mas, ao contrário dos quatro americanos, dois dos quais eram adolescentes, assassinados numa casa limpa, moderna, confortável, esta é uma casa apodrecida antes do tempo, com o capim bravo comendo os jardins abandonados, as orquídeas sugando as árvores sadias, como o isolamento, a sujeira e a avareza sugaram a vida e a cor destas vidas antes que elas terminassem. Antes que terminasse seu soturno diálogo de loucos como Os personagens de “A Longa Jornada Noite Adentro”, de O’Neill, com a mesma angústia, a mesma decadência, a mesma solidão frustrada e sem saída. Entardece, quando o carro volta daquela paisagem duplamente desolada: pelo crime e pela não-vida cujo fim o crime acelerou de forma tão brutal. Os cachorros Dunga e Pipoca ficam sobre a cerca, ganindo em lamento para a noite que cai.
As crianças maltrapilhas do pobre Jardim Paulista se alvoroçam quando ouvem o alarido do Circo Norte-Africano que vai estrear naquela noite em São José. Cercam o urso, a leoa, o leopardo, que desfilam nos carros de propaganda do Circo, anunciados por alto-falantes potentes. Na jaula, as feras estão inquietas, como se houvessem farejado sangue.

Matéria do Jornal Folha de São Paulo de 17 de junho de 1969

Não há herdeiros

O delegado Antônio Álvaro de Toledo, de São José dos Campos, é uma das peças mais importantes nas investigações, porque sempre viveu naquela cidade e conhece toda a história e os costumes dos irmãos Kubitzky.

O caseiro, Antônio Scaliuse, dormia na hora do crime, a mulher, Angelina, pensou que os tiros fossem bombas.

Esse delegado, um homem simples, moreno, bigode fino e estatura regular, com 46 anos, casado e pai de cinco filhos menores, não conseguiu ainda localizar herdeiros dos Kubitzky e, ao que tudo indica, eles não existem.
Correu um boato de que Erma Érica, há alguns anos, tivera um filho. O delegado interrogou muita gente na cidade sobre isso, mas nada apurou. Ele diz:
“Se esse filho existisse, ele ficaria, segundo a lei, com dois terços da fortuna que a família deixou, enquanto um terço seria reservado para o Estado”.

E parece que vai ficar tudo para o Estado, porque os Kubitzky trucidados eram os únicos da família. Além da Chácara Régio, cujo valor é calculado em NCr$ 800 mil, há as prestações das vendas de terras que os Kubitzky iam receber ainda por mais dois anos.

Um filho adotivo

Os Kubitzky tinham um filho adotivo, Nelson José Lombardi, que mora em São João Del Rei e é deputado estadual do MDB na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Mas, segundo o delegado Antônio Álvaro de Toledo, o parlamentar não tem direito à herança.

Há um outro homem que foi criado pelos Kubitzky: Siegfried Wogt, de 32 anos, casado, pai de dois filhos, que reside em São José dos Campos. Ele sempre visitava a família na chácara e, por isso, foi convocado pelo delegado para ajudar a fazer o levantamento do que foi roubado.

Já se sabe que os ladrões e assassinos levaram uma garrucha 380, uma Winchester 22 e uma espingarda calibre 32, armas que os Kubitzky não tiveram tempo para usar. O delegado fará, também, um levantamento dos bens da família e pedirá ao juiz da cidade para nomear um depositário.

O delegado Antônio Álvaro de Toledo acha que um boato que começou a correr há uns dois meses em São José dos Campos contribuiu para atrair os criminosos à Chácara Régio. Esse boato, cuja origem não foi apurada, informava que os Kubitzky guardavam NCr$ 70 mil em casa, quando, na verdade, era costume da família depositar a maior parte das rendas em bancos da cidade.

Presos

Já estão presos os quatro homens que no dia 27 do mês passado assassinaram a sangue-frio os irmãos Kubitzky, em São José dos Campos.

Os Kubitzky foram trucidados a tiros de revólver na Chácara Régio, no Jardim Paulista, onde viviam há mais de 30 anos. A chácara fica a um quilômetro e meio do centro de São José dos Campos.

Dos quatro assassinos, três são menores. Eles mataram para roubar NCr$ 700 e algumas coisas de pouco valor. Os Kubitzky assassinados: Hermann Paul, de 76 anos; Arthur Moritz, de 74; Erma Érica, de 72; e Frida Elsa, de 68.

Os irmãos Kubitzky, donos de mais de NCr$ 1 milhão em terras e dinheiro, não deixaram herdeiros. Eles levaram vida parcimoniosa. Eram filhos de imigrantes alemães.

Os assaltantes, que pensavam encontrar mais valores na casa-grande da Chácara Régio, foram presos depois de denunciados por uma mulher que sabia de tudo.

A prisão dos assassinos encerra mais um capítulo de um dos maiores crimes da história policial de São Paulo. O trucidamento dos irmãos Kubitzky é considerado o maior crime do vale do Paraíba nos últimos anos.

“Eles confessaram tudo friamente” – disse o escrivão Roberto Barretti, que interrogou os quatro assassinos, durante seis horas, na madrugada de anteontem, em São José dos Campos.

Os criminosos foram unânimes nos seus depoimentos. Eles contaram com riqueza de detalhes como planejaram e executaram o trucidamento dos irmãos Kubitzky.

“Ela pedia pelo amor de Deus para não morrer, mas eu a matei, com um tiro no ouvido.” (LBM, de 17 anos, contando como assassinou Frida Elsa, de 68 anos.)

“Acertei dois tiros, ela caiu, mas demorou um pouco para morrer.” (LBA, de 17 anos, explicando como matou Erma Érica, de 72 anos.)

“Ele puxou a coberta para se defender, mas eu o descobri e o matei, com um tiro no peito.” (Luís Carlos de Faria, de 23 anos, confessando como executou Arthur Moritz, de 74 anos.)

“Eu vigiei a casa, do lado de fora, enquanto eles matavam lá dentro.” (AB, de 16 anos, confessando sua participação no trucidamento dos irmãos Kubitzky.)

Um velho plano

Há três meses, na trilha de um matagal, a menos de um quilômetro da Chácara Régio, o plano para roubar e matar os irmãos Kubitzky foi elaborado por Luís Carlos de Faria e os três menores (todos brancos).

Os quatro queriam mais gente para o assalto e convidaram oito marginais, todos ex-detentos ou com passagens pela delegacia de polícia da cidade, mas não conseguiram aliciar nenhum e, por isso, decidiram atacar com quatro mesmo.

Às dez horas da noite de 27 de junho, uma sexta-feira, os quatro estavam nos fundos da Chácara Régio, todos armados, com exceção de AB. Eles invadiram a chácara, atravessaram o pomar, foram até a casa-grande, onde os Kubitzky moravam.

Dois cães mestiços policiais, mas não muito ferozes, investiram contra o grupo. AB, que estava desarmado, atraiu os cães para si, enquanto os outros bandidos entravam na casa-grande por uma porta lateral, que estava apenas encostada.

AB ficou no quintal vigiando. Na casa-grande, tendo entrado pela porta lateral, Luís Carlos de Faria, LBA e LBM já estavam na sala, onde haviam surpreendido as duas irmãs, Frida Elsa e Erma Érica.

Hermann Paul, o irmão mais velho, uniu-se às suas irmãs, vindo da cozinha, e os três investiram, sem êxito, contra os assaltantes, que, movimentando-se com rapidez mas atabalhoadamente, já haviam cortado o fio do telefone e aumentado o volume da televisão, que encontraram ligada.

Um barulho num dos quartos da casa-grande atraiu Luís Carlos de Faria. Era Arthur Moritz, quase cego, meio paralítico, que se esforçava em vão para se levantar. O bandido entrou no quarto e o doente puxou a coberta até cobrir a cabeça.

Luís Carlos de Faria descobriu Arthur Moritz e deu um tiro no seu peito, com o revólver que empunhava, um Taurus 38. O doente morreu logo. Enquanto isso, na sala, Erma Érica corria para o seu quarto para pegar um Rossi 22 da gaveta de uma cômoda.

LBA, que perseguira Erma Érica de perto, desarmou-a com facilidade. Depois, com o seu revólver, um Taurus 38, LBA deu dois tiros em Erma Érica, ferindo-a no pulso e na coxa. A mulher caiu sobre uma cama.

Hermann Paul tentou fugir pela porta que os bandidos usaram para entrar e que ainda estava aberta. Quando ele fugia para o quintal, LBM fez um disparo que, entretanto, acertou a porta. Depois, LBM perseguiu Hermann Paul e acertou-lhe as costas com um segundo tiro de um Taurus 32.

Ferido pelo tiro, que lhe entrou nas costas e saiu no peito, Hermann Paul ainda deu uns passos até morrer, agarrado a um muro, no quintal. LBM fez mais dois disparos contra ele, sem, contudo, atingi-lo uma segunda vez.

Erma Érica, ferida no pulso e na coxa, gemia caída na cama do seu quarto. LBA, que pensara ter matado a mulher, ouviu os seus gemidos e voltou da sala para o quarto. Deu um terceiro tiro, atingindo-a no peito, matando-a de uma vez, a sangue-frio.

Fonte

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