O Banhado em histórias e imagens

Os textos e algumas imagens (em xerox) abaixo foram extraídos do jornal Valeparaibano da década de 1980 e Jornal O Valeparaibano da década de 1970, não possuindo infelizmente uma data precisa, mas são ricas informações trazidas pelos moradores do Jardim Nova Esperança, incluindo mapas que apresentam que desde a década de 20 do milênio passado já existiam moradias por lá. Na década de 1930 os moradores da antiga rua São José, atual avenida São José, tiveram suas casas desapropriadas para o melhor “arejamento” do município que tratava de doentes de tuberculose na época, contribuindo assim com a livre passagem de ar dando a possibilidade de cura aos enfermos, o que não faz sentido já que não seriam algumas residências que não permitiriam a livre circulação de ar. Nessa ação, alguns moradores seguiram para as periferias do município e outros desceram para o Banhado, já que apenas as casas mais simples tinham sido retiradas.

Importante acompanhar o artigo (Planejamento urbano, agentes e representações; criação do Banhado, cartão postal de São José dos Campos) realizado por Douglas Almeida Silva (Historiador), Paula Carnevale Vianna (Doutora em Medicina Preventiva) e Valéria Zanetti (Doutora em História) referente à citação acima clicando aqui. Há também um trabalho mais completo realizado pelo historiador Doublas que pode ser acessa aqui.

rua São José depois da desapropriação, 1939-1940. Fonte: Vitor Chuster 2012.

Quatro gerações do Banhado

Dona Maria Rosa, uma das primeiras moradoras na foto com a filha, a neta e a bisneta.

Vindos de São Luís do Paratinga, Maria Rosa do Espirito Santo e seu companheiro instalaram-se às margens da represa do Jaguari onde moraram por algum tempo cuidando dos filhos. Com a morte do marido, “Mariquita”, como é conhecida, passou a trabalhar em fazendas a fim de sustentar as crianças. Já adolescente, a filha do meio Leontina mudou-se para São José dos Campos na esperança de arranjar um bom emprego e ajudar o resto da família. Começou a trabalhar na Pensão Paulista como ajudante de cozinheira. “No começo foi muito bom, trabalhava e aprendia bastante. Então conheci um rapaz e acabei me casando com ele. Logo depois do casamento viemos morar, aqui no Banhado e estamos nesta vidinha até hoje”, diz Leontina. Ela afirma estar no Banhado desde 1940 e que todos seus filhos, dez ao todo nasceram cresceram e casaram-se no bairro. “Se algum dia alguém quiser que nos mudemos daqui, tera que dar um motivo bem forte e mesmo assim iremos pensar no assunto”.

Quarta geração no Banhado desde 1950.

No início da década de 40, Mariquinha, mãe de Leontina, também mudou-se para o bairro com o resto da família. E aos 86 anos de idade, há 40 morando no Banhado, não dispensa algumas horas de trabalho em sua plantação de milho, feijão e mandioca, “Só parei de trabalhar durante os meses que fiquei de repouso devido a um acidente. Fui atropelada por uma bicicleta”, disse a anciã.

Atualmente, as quatro gerações que ainda residem no Banhado, segundo informações, não vão sair do local por nada. Bisneta, neta, filha e mãe convivem diariamente com alegrias e tristezas no bairro. “Dividimos os prazeres e os problemas com os demais moradores e prestando serviços a quem necessita, Todos aqui se conhecem. Se uma pessoa fica doente, a gente pode recorrer a qualquer vizinho que a ajuda é logo providenciada. Somos uma grande família aqui na vila“. Disse Neusa da Cruz Barbosa, neta de Mariquinha.
Ela afirma que a cidade é muito agitada para seu gosto as vezes, quando está passeando pelo Centro, não vê a hora de chegar ao Banhado e apreciar a calma do lugar. “Isto é um paraíso. Podemos ver todos os prédios lá de cima e toda a confusão que acontece por lá. Nunca senti e jamais sentirei vontade de morar na cidade. Nem que me dessem uma casa. Gosto de viver com o pé no chão brincando com as crianças e mexendo na terra.”

Leia abaixo a matéria sobre os pais de Dona Mariquinha que morreram atacados por abelhas na década de 1960:

Leontina: “confusão fica lá em cima”.
Leontina, moradora desde os anos 50.

Apesar de todos os problemas existentes no Banhado, seus moradores ainda preferem subir a ladeira e apreciar o magnífico espetáculo que a natureza lhes oferece no fim da tarde, ou apenas aprecia-lo sentados em meio as plantações, esquecendo a má fama que deram ao bairro.
Valeparaibano, sábado, 25 de outubro de 1986

Produzindo às prórpias custas

Feira do produtor é o exemplo que os moradores do Nova Esperança estão dando, as frutas vendidas foram cultivadas no próprio bairro.

Os moradores do Jardim Nova Esperança (antiga Favela do Banhado) estão encontrando alternativas para driblar as dificuldades financeiras. Na manhã e ontem os moradores realizaram, pela segunda vez, a feira do produtor, vendendo produtos cultivados pela própria comunidade em áreas do bairro. A partir de maio, a proposta é dar um salto ainda maior; realizar a feira com barracas fabricadas pelos próprios moradores e abri-las para a cidade, transferindo-as para um local de melhor acesso a outros bairros. A feira do produtor foi inaugurada no sábado retrasado, dia 21, no Centro Comunitário do Nova Esperança. Queremos mudar a imagem que as pessoas têm do bairro e ajudar a sociedade, disse o presidente da Associação Amigos do Nova Esperança, Francisco das Chagas.
Valeparaibano década de 1980.

Banhado ainda espera que a poesia desça a ladeira

Paraíba: “Mais fácil que chegar à Lua”.

Outro personagem do bairro, Antônio Domingues “Paraiba”, mora no Banhado há mais de 14 anos. Vindo do Rio Tinto, uma cidade industrial da Paraíba acabou fixando residência na vila.

“Paraíba” conta que ao chegar no Banhado só o mato é que existia. As plantações ainda eram mínimas. “Eu mesmo capinei muito até chegar a ter esta plantação. Consegui, através de esforços construir uma bela roça. Hoje tenho milho, ervilha, feijão e algumas bananeiras que dão para o gasto. O que tenho distribuo com os moradores daqui e alguma parte vendo a terceiros por um preço camarada”.

Pegando no “batente” às 5 horas da manha e só retornando para casa quando o sol já está se pondo, “Paraíba” admite que não leva mais nenhum jeito para morar em cidade grande referindo-se a São José dos Campos. “Aqui embaixo tudo é bonito e calmo. Só algumas vezes é que vou até a cidade para levar as mercadorias para vender ou então para ir até a Prefeitura Municipal reclamar da situação horrorosa do bairro. Mas, acabo sempre voltando para cá, perto da minha família que muito me ajuda no serviço”.

Como presidente da Sab, “Paraíba” tem sérios problemas a enfrentar. Ele realiza reuniões semanais no Centro de Orientação Educacional onde funciona uma escola primaria e o Pronam no período noturno, Afirma que são várias as reivindicações feitas pelo bairro à administração e que depois de muitos anos de espera é que os moradores conseguem ver alguns resultados positivos. “Lutamos de verdade рага conseguir algumas melhorias para a vila, mas a demora é tanta que chega a nos desanimar. Atualmente falta uma série de melhoramentos no Banhado. E rede de esgoto, que invade nossas casas e nossos quintais, é o muro de arrimo e calçamento por onde o pessoal desce e outras pequenas coisas. Só que a Prefeitura, quando vem até a gente, coisa muito rara, vai logo afirmando que não pode fazer nada. Como é que o homem chegou à Lua e não consegue consertar uma simples valeta? declarou Paraíba.

Apesar de todos os problemas existentes no Banhado, seus moradores ainda preferem subir a ladeira e apreciar o magnífico espetáculo que a natureza lhes oferece no fim da tarde, ou apenas apreciá-lo sentados em meio as plantações, esquecendo a má fama que deram ao bairro.
Valeparaibano década de 1980.

Mais de 30 confirmam: o túnel existe, é só cavar no Banhado

Mais de trinta pessoas já confirmaram a existência do túnel que corta São José dos Campos. Agora resta à Prefeitura se decidir pelo começo das pesquisas e perfurar alguns pontos onde possivelmente está sua entrada, na orla do Banhado. Mesmo assim quem tiver alguma informação sobre o túnel pode ligar para o jornal.

Todas as informações indicam que ele acaba no Banhado em algum ponto em frente à Casa do Médico, alguns metros abaixo da Avenida São José. Ontem mais pessoas ligaram para o jornal dando informações. No Banhado, o morador mais antigo, Antônio Camilo da Cruz, que há 43 anos vive lá diz que muitas vezes entrou no túnel quando era criança.

Era úmido e o chão era de pedra. Na entrada era tudo cimentado e haviam grades lá dentro. Tinha muito morcego e por isso a gente tinha medo de ir muito fundo. Meu pai esteve lá dentro várias vezes, mas infelizmente ele morreu”.

Mal assombrado

Muito se fala sobre o túnel do Banhado, Maria Rosa do Espírito Santo, 83 anos, diz que seu irmão esteve várias vezes no túnel, mas ele agora está em São Paulo. “Eu nunca fui lá dentro. Contavam muitas coisas de assombração. Certa vez uma mulher que morava aqui, ela já morreu, estava passando à noite pelo túnel e viu um padre parado na porta. Ela dizia que se aproximou do padre a empurrou Banhado abaixo, ferindo-a. Ninguém nunca deu muita confiança para essa conversa de assombração, mas eu é que não iria lá conferir“. Segundo dona Maria, o túnel atravessava o Banhado e saía na baixada da Vila Dom Bosco, onde antigamente existia uma igreja.

Dona Maria, 83 anos: “Com medo de assombração”.

Padre não acredita

O Padre João, que há mais de 40 anos está em São José dos Campos, disse ontem que não existe nenhum túnel na igreja Matriz, que isso tudo é apenas lenda. Evitando falar sobre o assunto e informando que estava com pressa e não poderia conversar muito, o padre diz que inaugurou a matriz há mais de 30 anos e nunca viu qualquer sinal da existência de uma passagem dentro dela.

Construções horizontais

Uma pessoa que não quis se identificar telefonou ontem para a redação e disse que a cidade pode estar realmente cheia de túneis, mas isso nada tem a ver com os ataques dos índios aos jesuítas, que foram obrigados a construir túneis para fugir. Segundo essa pessoa, antigamente, para se fazer uma construção, quando o terreno tinha água a poucas profundidades, era comum fazerem as escavações na horizontal. Segundo anônimo, as construções antigas eram de taipa, uma mistura de terra e a matéria-prima para a construção dessas casas era a própria terra da qual precisavam em grande quantidade. Era impossível cavar um buraco sem que logo fosse encontrada água. Por isso os antigos, que não dispunham de caminhões nem tratores para buscar terra longe, cavavam túneis e iam então retirando a terra.
Valeparaibano, década de 1980

Nota: Neste vídeo com o depoimento do sr. Jaime Rachid, filho de Pedro Rachid, gravado entre os anos de 1988 e 1992 para o Projeto Patrimônio Humano, há uma interessante informação sobre a construção que existiu antes de seu pai construir o Hotel San Remo, hoje Caixa Econômica Federal ao lado da Igreja Matriz. O sr. Jaime conta que ali naquela elevação, ele viu a demolição do primeiro prédio construído pelos jesuítas e o último a ser demolido na década de 1930. Junto aos índios Guaianases, os jesuítas construíram um forte que seria utilizado para ser uma escala jesuíta, toda em taipa, de terra batida com óleo de peixe. Durante o processo de demolição, o sr. Jaime mesmo com os braços abertos não conseguia medir a largura das paredes da construção tamanha fortificação, citando também as passagens subterrâneas ali existentes. Acrescentando também informações sobre o Banhado e a desapropriação das casas da rua São José, e como as seguidas administrações públicas pensaram a área.

Fotos

Nelson, morador desde a década de 50.
A moradora Dona Cidinha caminhando com seu filho ao longo do trilho de trem no Banhado, na década de 1970.

Sr. Egydio e os porcos no Banhado. Foto de 1976.

O Banhado alagado há muitas décadas atrás.
Rua de Trás (hoje Av. São José) à direita (com pessoas na calçada) está o prédio da Sta Casa de Misericórdia, hoje aí é a esquina da Cel. José Monteiro com Av. São José. Os imóveis do lado esquerdo, são hoje a Ola do Banhado. Possivelmente década de 1920.
Por José Zanine Caldas Filho.

O Banhado em 1960. Baixada cultivada em São José dos Campos, vista do terraço onde está localizada a cidade (SP).
Fonte: IBGE

A integração das cores – por Ana Maria G. Jorge
A vida no Banhado – por Ana Maria G. Jorge
Banhado e agrovila – por Dalton B. R. Mathias
Banhado e Pecuária – por Aldofer F. Aguiar
Banhado Varzeas de Cultivo
Convivencia com Banhado – por Claudinei Prado
Banhado – Comphac – Conselho Municipal do Patrimonio Historico, Artístico e Cultural de SJC
Hortibanhado – por Benedito R. Matias
Pastoreio – por Lidia Bernardes
Para renascer das cinzas – por Cesar Rodrigues

Leia também:

Enchente no Banhado
Morador do Banhado na década de 1970.
Década de 1970

Ednardo propões à Câmara a defesa do Banhado

Em contato com a imprensa ontem à tarde, o prefeito Ednardo José de Paula Santos considerou da máxima importância o projeto de lei enviado à Câmara Municipal que dispõe sobre o uso do solo em zona especial. O projeto, segundo o chefe do Executivo, visa a preservação e melhoria das áreas verdes do Banhado e regula todos os tipos de construções e atividades naquele local. “O futuro do Banhado como uma área verde e de lazer, que é extremamente necessária para São José dos Campos, está condicionado à aprovação da lei que é detalhada e vem para sanar a superficialidade da lei anterior, de dezembro de 71, que coloca em risco aquela área” afirmou o prefeito.

O prefeito Paula Santos informou também que esse é o mais importante entre os seis projetos enviados pelo Executivo ao Legislativo nesta semana. A lei havia sido enviada com incorreções para o Legislativo, mas foi retirada, e, ontem à tarde, deu entrada novamente na Câmara já com as correções.

Futuro

O futuro do Banhado como uma área predominantemente verde e destinada à recreação idealizada na administração anterior, do prefeito Sérgio Sobral de Oliveira, quando inclusive foi realizado um projeto de implantação do Parque Regional do Banhado, seria um grande centro de recreação para todo o Vale do Paraíba. O projeto do arquiteto Jorge Wilheim, atualmente secretário de Planejamento do Governo do Estado, foi considerado inexequível financeiramente pela Prefeitura e atualmente encontra-se em estudo na área do governo estadual. Naquela ocasião, a área foi considerada como zoneamento Especial, pela lei n.o 1606 de dezembro de 1971 e delimitada por decretos executivos.

Com o afastamento da ideia de implantação de um parque regional, pelo menos na atualidade, a área ficou sem uma regulamentação mais específica. Sentindo a gravidade do problema, o prefeito Paula Santos acaba de enviar à Câmara um projeto de lei que trata mais especificamente do assunto. Em sua mensagem, o prefeito afirma que “a Lei de Zoneamento ao caracterizar a Zona Especial no seu artigo 9.0, o fez de forma por demais breve, recomendando, tão somente, a localização de edifícios públicos e serviços especiais que demandassem áreas consideráveis ou situações específicas. Não estabeleceu nenhuma vedação, não criou nenhuma restrição específica ao uso do solo, além das exigências que se pode extrair pela exegese de todo o texto”.

O prefeito Paula Santos ressalta também que brevidade esta torna-se indispensável regular com assunto, de sorte a que não ocorram embaraços ao aplicador da lei ou mesmo certa perplexidade entre os munícipes com relação ao sentido e alcance do dispositivo em apreço, que tem ensejado interpretações errôneas. Sendo também necessário o estabelecimento de limitações explícitas ao uso do solo em Zona Especial de molde a não descaracterizar o que foi estabelecido. pela Lei de Zoneamento, pelo uso indiscriminado dos imóveis nela situados.

Pelo projeto, as edificações em Zona Especial (Banhado) obedecerão às seguintes restrições: lote com área mínima de 100 mil m2., com frente de 100 metros: a construção em pavimentos será permitida até o limite máximo de nove metros ou três pavimentos, sendo a sua projeção em planta da área construída no máximo de cinco por cento da área total do terreno e, finalmente, a taxa mínima de área verde não será inferior a 75% da área total do terreno. O projeto especifica também que a área verde será obrigatoriamente arborizada, segundo projeto paisagístico que deverá ser apresentado com os demais projetos exigidos pelo Código de Edificações e que as construções lindeiras talude aos trilhos da RFFSA que se localizarem no (Banhado) e compreendido entre o patamar inferior superior (cidade) além das restrições previstas na lei, terão como cota máxima de altura o nível do patamar superior.

Em rápido contato com repórteres na tarde de ontem, o prefeito Paula Santos considerou como da máxima importância essa regulamentação «para evitar que uma das mais belas áreas de São José dos Campos possa ser prejudicada por construções que corrompam todo o conjunto paisagístico, essencialmente verde e de grande beleza natural.
O Valeparaibano, quarta feira, 19 de maio de 1976

Plantas antigas com a identificação de moradores no Banhado

3 de março de 1955
21 de julho de 1920

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