Depois de 49 anos de profícua existência encerrou suas atividades um dos mais famosos botequins de São José dos Campos: o “Bar do Baia”, da rua Carvalho de Araújo no 132, na Vila Maria.
De início, Ismael Pestana Filho, o “Baia”, construiu uma rinha de galo nos fundos e a fama do bar ultrapassou as fronteiras municipais. De lá pra cá, mudando de donos, mas sempre mantendo as características originais de um botequim, passou por várias fases. Dos jogos de truco, caixeta e do bicho, dos chorões e seresteiros, das festas gastronômicas, das bebedeiras homéricas!
Pelo Bar do Baia passou um sem número de personalidades importantes (era ponto de encontro do saudoso deputado Benedito Matarazzo Filho!) desfrutando do anonimato que só os botequins da vida oferecem aos seus frequentadores. Ricos, pobres, remediados, todos puderam, democraticamente, ao longo desses 49 anos, encostar o cotovelo no balcão e bebericar o seu aperitivo preferido. Da Itapema rótulo preto, Camelinho, conhaque Palhinha, até a Tatuzinho, 51, Velho Barreiro! Ou aquela cerveja bem gelada! E haja conversa!
De Ismael Pestana Filho ao seu último dono, William Scali Heckert (que, apesar do nome, é de Niterói e flamenguista doente!), a razão social mudou, o nome na placa também, mas o boteco ficou mesmo é conhecido como o Bar do Baia. Com este nome passa para a história dos botequins da cidade, que algum dia ainda será contada!
Assim como os mais famosos bares do mundo, como o “La Floridita”, em Havana, que até hoje cultua o canto de balcão onde Ernest Hemingway bebia o seu daiquiri, ou as suas fotos no “Bodeguita Del Médio”, onde curava as suas ressacas com “Mojito”, os botequins guardam a memória de seus fundadores ou donos adotando os seus nomes. É o bar do Pedro, do Euclides, do Chico, do Canário, do Hélio, do Mazinho, do Varzinho, do Arnaldo. Os prédios até desaparecem, mas a lembrança do botequin permanece!
Ou passam para a história por seus frequentadores e episódios importantes que assistiram. É o caso do “Bar 15”, onde Noel Rosa e os integrantes do Bando dos Tangarás bebericavam nos dias que passaram em São José. Ou o “Paulistano” onde o Alberto Rios foi esbofeteado e acabou matando o seu desafeto. Ou, ainda, o “Santa Helena”, onde as sessões da Câmara Municipal terminavam em pizza e os vereadores de então acabavam tomando as decisões mais importantes para a cidade!
Nesta altura, uma pergunta pode estar fazendo o leitor: por que um bar tão famoso assim acaba fechando as suas portas? Cada caso, evidentemente, foi um caso e as razões foram várias e diferenciadas. No caso do Bar do Baia acredito que foi pelo ciúme exagerado por parte de seus frequentadores habituais, que não quiseram que outras pessoas viessem a desfrutar de seu convívio. Certa feita, surpreendi alguns de seus “habitués” olhando meio feio para frequentador não habitual… Agora, em outros botequins, poderão impressionar outras pessoas falando dos tempos do Bar do Baia, assim como se fala dos tempos de outros botecos da cidade!
Não fosse por ciúme de seus “habitués”, o Bar do Baia não teria fechado as suas portas! Creio nisto porque o fechamento de um boteco, mesmo que por razões diversas, geralmente entristece os frequentadores. Não foi o que aconteceu com o Bar do Baia. Fechou em grande estilo! Com festa, comes e bebes, muita música e alegria! Aliás, resumiu numa noite o que foram os 49 anos de sua vida! Pode-se até dizer: fechou, mas fechou feliz!
Nos momentos de crise, o melhor é abrir um bar, escreveu Antônio Callado. Que o fechamento do Bar do Baia nos afaste das crises ou, pelo menos, nos inspire e dê mais forças para superarmos todas as crises presentes e futuras! (1998)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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