Em 1906 começaram a desembarcar dos trens de carga da Central do Brasil, na Estação que ficava perto da entrada da Rua Serimbura, que só recebia materiais pesados e cargas especiais, os volumes endereçados para a Companhia de Extração Tanífera Alemã, que o querido e saudoso Fernando Cortes, Chefe daquela Estação de Cargas, liberava a um procurador dos germanos, proprietários da Companhia. O material era levado em grandes carroções para o enorme abrigo no caminho do que era o fim da Rua dos Bambus, mais tarde batizada com o nome do querido dr. Nelson Silveira D’Avila, médico de origem gaúcha, cujo falecimento a cidade prateia ainda hoje.
A criançada da época tinha o costume de ir buscar araçás, gabirobas e goiabas no enorme campo que circundava aquele depósito, e os alemães concessionários da área, nunca proibiram a criançada o ingresso na região. Tornou-se muito popular durante largo tempo, naquele Campo dos Alemães um senhor de meia idade, conhecido somente pelo apelido de “Major”, que avisava seguidamente cada menino, para ter muito cuidado ao colher frutas no chão sob as árvores, porque era certo haver perto das frutas alguma cobra esperando um pássaro para sua alimentação.
O “Major” era funcionário do Instituto Butantã de São Paulo, encarregado de capturar ofídios e toda espécie de insetos venenosos, que remetia ao Instituto, para a finalidade de estudos e produção de soros antiofídicos. A remessa das cobras chegou a atingir a média de 100 indivíduos por mês, o que era feito em caixas especiais. Evitavam prender em uma caixa elementos de famílias diferentes, e os sinistros guizos das cascavéis identificavam onde estavam alojadas.
Desde a instalação dos alemães nos campos cedidos pela Prefeitura Municipal, para a Companhia Tanífera, a região ondulada do planalto desde Tatetuba até o Rio Comprido, em parte limitada com a Estrada de Ferro Central do Brasil e em áreas com limites com os traçados da Estrada de Rodagem São Paulo-Rio, área que ficou conhecida como “Campo dos Alemães”, num antigo pasto cheio de cupins e de barba-de-bode, que num tempo extremamente curto ficou sendo uma esplêndida floresta de frondosas acácias, cobrindo as ondulações do terreno. Entre cada vinte pés de acácias os germanos plantaram alguma árvore frutífera como araçá, goiaba, ameixa e amora, reservados para os pássaros que para ali acorriam nos meses da frutificação, especialmente das gabirobas nativas.
Quando os alemães conseguiram da nossa municipalidade autorização para explorar o imóvel de 500 alqueires, logo começaram o plantio das acácias em mudas já quase adultas, em escala impressionante! Em menos de três anos as árvores formaram uma floresta educada, com troncos alinhados em fileiras certinhas, medindo distância padrão entre cada árvore e oferecendo ampla passagem para carros de limpeza, o que mantinha a região inteira livre de insetos e oferecendo na força do calor uma sombra hospitaleira e perfumada, proporcionando às famílias de joseenses um lugar especial para piqueniques e passeios coletivos, que logo se tornaram costume.
Com o conflito mundial de 1914/1918 ficaram os alemães marginalizados e a Companhia Tanífera desistiu da concessão. Parou de tirar as cascas de cada árvore, de seis em seis meses, e as remeter para os Laboratórios de Produtos Químicos Bayer, na Alemanha, onde aproveitavam o tanino daquelas cascas, que era matéria prima para a indústria de produtos farmacêuticos, e altamente compensadora de divisas ao mercado brasileiro.
Terminada a guerra e indo a Alemanha à falência com a desvalorização do seu dinheiro que caiu ao nível de “zero”, os germanos não mais tiveram ambiente em nosso município e partiram para sua terra de origem deixando apenas entre nós o saudoso e querido Dr. Fritz Jacob, médico de clínica geral que durante vinte anos ofereceu à gente da cidade seus amplos conhecimentos, sua enorme capacidade clínica, sua simpatia envolvente e seu humanismo, porque jamais recebeu em dinheiro o valor das consultas de gente pobre. Chegou a lhes dar dinheiro para comprar os remédios que Ihes receitava. O Dr. Fritz trouxe para nossa cidade uma preciosa enfermeira qualificada e parteira diplomada chamada dona Frederica, que atendeu durante quarenta anos ao nascimento de joseenses e proporcionou atendimento clínico cientifico às suas clientes, de maneira muito eficiente e carinhosas.
No ano de 1929 a cidade recebeu a visita de um militar da aeronáutica, que aqui viria morar algum tempo, com a missão de conhecer e identificar a área da extinta Companhia Tanífera Alemã, e fazer amplo relatório para aproveitamento ou não do enorme terreno, onde de início seria instalado um Campo experimental de Aviação. Aquele militar era o festejado e heróico Tenente Negrão, um dos tripulantes do hidroavião “Jahu”, que o Comandante João Ribeiro de Barros trouxera da Itália até a Represa de Santo Amaro, na capital bandeirante, no ano de 1927, num arrojado e pioneiro feito de valor internacional.
O Tenente Negrão viera informado da “falha atmosférica”, singular fenômeno que possibilita à ciência o estudo dos raios solares e cósmicos a poucos metros de altura, quando em qualquer região do globo só seria possível com sondas a alturas elevadas.
Inicialmente, após a desistência do contrato pelos germanos, nossa municipalidade tratou de assinar contrato com a Central do Brasil para uso das acácias para alimentar as fornalhas das máquinas das composições da Central do Brasil. Logo que foi assinado o contrato, apareceram no Campo dos Alemães alguns tratores com serra circular na parte da frente, e em poucos meses todas as acácias haviam sido derrubadas e carregadas em vagões especiais da Estrada de Ferro.
O Serviço Nacional de Meteorologia instalou no campo vazio um galpão grande com uma casa anexa, para residência de funcionário para atender diariamente os diversos postos de observação ali instalados, para registro de movimentos eólicos, controle de raios ultra-violetas, densidade pluviométrica e registro especial de neblina durante o espaço de três anos, para controle dos nevoeiros matutinos e vespertinos com marcação em hora/ano.
Na época, algumas cidades do Estado de São Paulo pretendiam ter preferência na instalação de núcleos aeronáuticos, especialmente as cidades de Campinas, Taubaté, Itapetinga e Cruzeiro. Algumas alegando estarem situadas no meio de imensas planuras, o que dispensava grandes gastos com terraplanagem. Outras, citando o fato de raramente terem nevoeiros em seus limites. Ainda outras, como Cruzeiro, afirmando que sua localização era ideal por estar exatamente entre os dois maiores centros políticos sociais do país (Rio e São Paulo).
Pesados os prós e examinados todos os fatores, foi a Prefeitura de São José dos Campos que recebeu o pedido do então recém Ministério da Aeronáutica, de liberação de quase toda a área do que tinha sido o “Campo dos Alemães”, onde começaram a funcionar as diversas seções do C.T.A. (CENTRO TÉCNICO DA AERONÁUTICA), hoje o majestoso Centro de Estudos Aeroespaciais, e as instalações das Fábricas de Aviões.
O campo de Tatetuba até o Rio Comprido, ganhou foros de “Centro de Estudos do Ano 2000”.
Como curiosidade e também com muita saudade devo informar que era no bairro de Tatetuba que durante mais de cem anos fabricaram a farinha de mandioca mais gostosa do mundo!
Crônica feita pelo prof. Jairo Cesar Siqueira, vice-presidente da Sociedade Geográfica Brasileira.
Jornal Perfil Mulher, julho de 1987
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Eu Giovanny Ricardo Donati Antunes sou Filho de Maria Aparecida Donati Antunes (de Maria da fé MG ) e Avelino Antunes dos Santos Neto ( de São José dos Campos) . Meus bisavós Paternos vieram de Bragança Paulista Sebastiana Francisca de Paula e Adalberto de Oliveira . Meus pais casaram e moraram na Vila Ema e alguns anos depois vieram para o Parque Industrial Novo . Naquela época ainda não existia o Vale do Sol e nem Morumbi e nem 31 de Março, de casa dava para ver a antiga Fiel ( hoje Gerdau).