O leite adulterado

Outro dia a bomba estourou por cima dos leiteiros. Houve apreensão, para exame, do produto que vem sendo entregue à indefesa população desta boa cidade de São José dos Campos.

As carroças foram detidas até o meio dia e não se sabe muito bem o que ficou resolvido: se os leiteiros continuarão a entregar-nos religiosamente o produto batizado ou se a falta d’água (há males que vêm pra bem) vai proporcionar-nos a rara oportunidade de ingerir leite mais ou menos puro…

A propósito, devo declarar que eu, como adulto bem comportado em fase de alfabetização retardada, como amigo sincero dos fracos e oprimidos, estou cem por cento a favor dos leiteiros nessa história toda… Ou vocês pensam que é fácil arranjar água para a mistura? Objetarão: E as crianças? Ora, todo mundo sabe que as crianças (as lactantes) não bebem água, embora dela precisem, eis que o nosso corpo, segundo um famoso professor alemão de nome arrevezado (o dr. Austerlitz) o nosso corpo, é composto de sessenta por cento de H2o. Portanto, os leiteiros que põem água no leite estão ajudando as crianças a crescerem bonitinhas e com água na boca…

Dirão também os meus inimigos gratuitos que oS leiteiros agregam ao leite a urina da vaca. Na verdade, eles o fazem, e com muita inteligência porque os fiscais do Serviço Sanitário

andam armados com um aparelhozinho chamado lactodensímetro, para medir a densidade do produto. Se o leite contiver água, о diabólico instrumento acusará imediatamente a falcatrua, o que em absoluto acontece quando α mistura for feita com aquele subproduto… Não é prova de inteligência que dignifica uma classe? E a trabalheira que o recolhimento do material deve causar a essa pobre gente que até para ser desonesta precisa de conhecimentos científicos? Alguns leiteiros chegam até a dar urotropina aos animais…

Podem dizer que eu estou “puxando” o cordão, e eu nem ligarei, Fui desmamado muito cedo e desde então aprendi (e ensino a todos sem cobrar um tostão) que no caso do leite é sempre de bom alvitre não contraria a nata. Porque a coisa azeda!

Revista A Cidade 1951

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