O livro não publicado do professor Benedito Vasconcelos (1948)

O documento aqui apresentado, é um livro escrito e não publicado pelo professor Benedito de Vasconcelos. Os textos batidos à máquina foram transcritos, mas as páginas com desenhos e gráficos serão publicados no formato original, apresentando um grande empenho em favor da informação, finalizado em julho de 1948.

Benedito Zoroastro de Vasconcelos. Foi professor de geografia, diretor do João Cursino e do Colégio de Santana. Morou na Nelson D’ávila esquina com João Guilhermino. Trabalhou no armazém Fortaleza que existiu na Rua Siqueira Campos, de propriedade da família Leite. Foi o criador da Fanfarra Feminina nos colégios de Santana e juntamente com Linneu de Moura e outros desportistas, fundou o Clube de Campo Santa Rita (Vermelhinha). Fez parte do grupo que fundou a ETEP (Escola Técnica Professor Everardo Passos) e foi membro da primeira Mesa Diretora do Colégio Olavo Bilac. Conhecido como professor Ditinho, casado com Dna. Noêmia. Nasceu em 11 de março de 1913 e faleceu em 26 de agosto de 1997.

Professor Ditinho no João Cursino em 1951.


Fundação da cidade

Na atualidade, quando São José dos Campos vive indiscutivelmente a sua Idade de Ouro, graças às iniciativas utilíssimos que se vem realizando em benefício do município, é grato volver os olhos para o calmo passado da terra cujo divisa não celebra feitos guerreiros, mas apenas a simples dadivosidade do chão e o natural milagre dos ares que são uma fonte de vida.

Decorridos os primeiros anos da descoberta do Brasil, sentiram as autoridades portuguesas que aqui estavam, grande dificuldade å boa marcha dos negócios públicos, diante das lutas a que eram levados os colonizadores para dar combate ao gentio, sempre disposto a impedir a incursão de estrangeiros no território imenso de que era, até então, senhor único e a absoluto.

Vendo que pelas armas jamais chegariam a resultado satisfatório, optaram pelo recurso de persuasão, entregando nos padres jesuítas, chefiados pelo grande José de Anchieta, a tarefa de dominar os selvagens, trazendo-os a bom caminho. Morto o santo evangelizador dos sertões e aumentando sempre mais os entraves que se antolhavam a todo momento, o governo precisou adotar providencias decisiva e, assim, foi sancionada a lei de 10 de setembro de 1611 criando e regulamentando aldeias de índios nos pontos em que melhor conviesse.

Sem demora apareceram diversos desses aldeamentos, para cuja organização foi preciso imolar não poucas vidas de sacerdotes abnegados, caídos aos golpes traiçoeiros dos indígenas indomáveis. Entre os aldeamentos que desde logo mereceram atenção dos padres, para as bandas do norte, figuravam São José, localizado no ponto hoje ocupado pelo bairro do “Rio Comprido”, a 10 Km aproximadamente da cidade atual e que, segundo Azevedo Marques e outros historiadores, havia sido fundado logo após o êxodo de Piratininga, compondo-se de elementos da tribo “Guaianazes”, qualificada por Rocha Pombo, em sua “História de São Paulo” como ” a mais culta e composta dos melhores índios da América do Sul”.

Vários padres jesuítas conseguiram entrar em entendimento com esses indígenas.

Como o local do aldeamento parecia pouco vantajoso, ficou resolvido abandonar aquele ponto, que passou a ser designado de Vila Velha.

Voltaram os padres as suas vistas para o magnifico planalto na zona em que agora está a cidade. Transferido o aldeamento, foi iniciada com ardor a tarefa de construção, iniciado pelo levantamento da residência dos padres, na atual Praça João Pessoa e seguida de numerosas cabanas toscas, esparsas pelo trecho em que está presentemente a rua São José.

Os jesuítas agiam ativamente, construíram um convento e a Matriz.

Estes edifícios estavam ligados por uma galeria subterrânea, o que demostra o receio que nutriam os sacerdotes de um possível ataque, prevendo-o de modo a terem garantido fuga. As paredes do templo, há pouco demolido era, de taipa extraordinariamente grossa.

Longos anos decorreram e durante o imenso lapso de tempo o aldeamento caminhava a passos largos, progredindo sempre.


Nesse interim foi descoberta uma taba no lugar denominado “Lavras”. Entretanto em contato com esses selvagens, os seus irmãos de São José, trouxeram várias amostras de puríssimo ouro, despertando a atenção dos jesuítas que colheram grandes frutos das minas ali localizadas. Até hoje é conhecido pelo nome de “Tanque dos Índios”, um trecho alagadiço da atual Fazenda Montes Claros, situada nas imediações do bairro de Lavras. Em 27 de Julho de 1967 São José foi elevado à categoria de Vila com o título de São José dos Paraíba. A prosperidade da nova vila a fertilidade incontestável da zona, iam atraindo numerosas pessoas de outras partes que requeriam terrenos para formação de propriedades. Pequenos, quase nulos, eram os rendimentos do município nesses primeiros anos, bastando acentuar que em todo o ano de 1795 a arrecadação atingiu a $ 67.280.
Em numerosos autos arquivados nos cartórios e correspondentes ao período de 1790 a 1795 encontramos a designação de Vila de São José do Sul. Entretanto não existe ordem oficial sobre essa mudança de nome que, segundo parece, teve origem na necessidade de distinguir esta vila da de São José do Norte, localizada em frente à cidade do Rio Grande, tendo entre si o canal comunicando a Lagoa dos Patos com o Oceano e onde em 1767, concentraram-se forças nacionais em luta com os castelhanos.

A designação “Paraíba” que, desde os primeiros tempos, fora acrescentado ao nome deste município, tinha origem – segundo a opinião do historiador paulista Dr. Djalma Forjaz – no fato do território de São José haver pertencido no antigo Paraíba (hoje Jacareí), de onde foi desmembrado.

Queriam os moradores que o município recebesse nome mais sugestivo, lembrando-se o de São José dos Campos, dada a imensa extensão de campinas aqui existentes. Apresentado um projeto nesse sentido na sessão legislativa da Assembleia Provincial foi o mesmo aprovado. Mais tarde é criada a Comarca de São José dos Campos, desmembrada do termo de Jacareí – sua prosperidade era grandiosa. As finanças municipais melhoraram de ano para ano, bastando assinalar o fato de atingir $ 12.850.000 a arrecadação em 1872, quando em 1832 era de $ 274.000 apenas. A cidade possuía 554 casas e muitas construções estavam projetadas. Em 1874 a população joseense era de 11.835 habitantes, existindo 1.599 escravos. Surge nesse ano o primeiro jornal o “Jovem América”.

A inauguração da bitola larga da E.F.C.B. (Antiga Estação Ferroviária Central do Brasil) em 1905 constituiu grande acontecimento, enchendo de justificada satisfação o povo joseense. Em 1909 efetuou-se a inauguração do serviço de abastecimento de água. Por essa época já procuravam o clima admirável de São José dos Campos, pessoas debilitadas ou mesmo doentes de afecções pulmonares, que aqui encontravam condições favoráveis ao seu restabelecimento.

Esse fato deu grande fama ao lugar, que por isso se tornou muito procurado. Em virtude estabeleceu o Governo do Estado em 1935, um plano afim de transformar a cidade em uma Estância Climatérica que oferecesse conforto e higiene aos forasteiros que a buscam aspirando obter o restabelecimento da saúde.


Hidrografia

Os rios do Município de São José dos Campos, como a maioria dos rios brasileiros é de origem pluvial. Por esse motivo as enchentes de verificam nos meses do outono ou no fim do verão, porque as chuvas mais abundantes caem na estação quente.

Nosso principal rio é o Paraíba, muito largo e caudaloso em vários pontos. Seus principais afluentes no Município, são: Varadouro, Capivarí, Jaguarí, Buquira, Butá e Piracicuna pala margem esquerda e Pararangaba, Tatetuba e Divisa pela Direita.

Rio Peixe, vindo do Mantiqueira, tem como tributário os ribeirões: Chico Candido, Santa Barbara, Santo Antônio, Rio Manso, Ferreira Couves, Cafundó e Roncador pela esquerda. Pela direita, os ribeirões Machado e Guerra.

Jaguarí, vem de Santa Isabel, recebendo o Paratí e o Rio do Peixe. Buquira recebe os ribeirões Buquira e Ferrão.

Os rios Paraíba e Jaguarí, além de outros, são perfeitamente navegáveis, tendo havido, mesmo, em várias épocas, numerosas tentativas para o estabelecimento de linhas normais de navegação fluvial, principalmente no primeiro. Em ambos é realizado com regularidade o transporte de mercadorias produzidas nas propriedades que lhes ficam próximas.


Quedas d’Água

(nome) Cachoeira do Turvo (rio) Rio Turvo. Altura 26 metros Potencia 505 K.W. (Light & Power).

(nome) Cachoeira do Rio do Peixe (rio) Rio do Peixe. Altura, volume e potência desconhecida.

(nome) Cachoeira do Buquira (rio) Rio Buquira. Altura, volume e potência desconhecida.

O município de São José dos Campos sob o ponto de vista geológico pode ser dividido em 3 regiões distintas:
1 – Grande planície de várzeas, coberta de aluviões recentes, argilosa, muito rico em humus e bastante ácida
2 – Terrenos terciários, representados por arenitos argilosos, de granulação bastante variada.
3 – Regiões acidentadas, com terrenos variados do complexo cristalino brasileiro. No vale do Jaguarí, afluente do Paraíba, o aluvião das várzeas é excelente quanto a riqueza química, e o terciário química e fisicamente ótimo, sendo constituído de terrenos descansados, dos quais boa parte se acha ainda coberta de capoeiras fechadas.

Enquanto que em outras partes do município o complexo cristalino tem constituição muito variada, aqui ele é representado quase que exclusivamente pelo arqueano propriamente dito, com predominância de gneiss biotítico estriado contendo veios pegmáticos. O solo é bastante uniforme neste vale, onde se acha representado por um massapé vermelho-escuro, de riqueza química comparável à dos melhores terrenos do Estado.

Ao Norte do Município, está a importante Serra da Mantiqueira, cuja altitude máxima alcançada é de 2.100 metros.

Ao Sul, quase paralelo à Mantiqueira, aparece a serra de Cangalhas.

Além dessas, encontramos ainda no município, as serras: Buquira (1.350 m)

Matinada (1.100 m) localizadas no município de Buquira. Poncianos (1.950 m), Guira (1.600 m) e Guaxindiva (1.250 m); no Município de São Francisco Xavier, Jambeiro (900 m) no sul da sede do município.

Quanto aos morros, destacamos: Jacú, no bairro de Tabas – Alt. – 1.000mt – São Francisco
Trabijú Alt. – 1.400mt – Buquira
Pedra Branca – Trabijú – 1.350mt – Buquira
Púlpito – Trabijú – Alt. 1.200mt – Buquira
Vermelho – Francos – Alt. 1.100mt – São Francisco

Rio Paraíba.
Rio Capivarí.
Rio Buquira.
Salto Leoa (Rio Jaguarí)
Salto Leoa (Rio Jaguarí)



Vias de Comunicação

Todo o município é cortado por estradas, embora sejam algumas mal conservados.

Entre as rodovias municipais contam-se para Vargem Grande, com 20 quilômetros, para Sertãozinho, com 22 quilômetros, para São Francisco Xavier com 48 quilômetros, para Jaguarí com 24 quilômetros, para Serrote com 20 quilômetros, para Bom Retiro, com 18 quilômetros e para Jardim, com 24 quilômetros. Pela Estrada São Paulo-Rio está em contato com cores dois grandes centros, e pela estrada São José dos Campos comunica-se com o Sul de Minas.

Com o litoral está em comunicação pela estrada São José-São Sebastião. Possui o município os seguintes veículos:

150 automóveis
18 auto-ônibus
10 caminhonetes
120 caminhões
644 bicicletas

A extensão das linhas férreas no município é de 29.300 quilômetros.

Encontramos no Município de São José dos Campos, inúmeros padrões de terra rica, boas culturas de café, cana de açúcar e milho, ricas pastagens e matas de bom porte, fechadas, úmidas e com seu solo já bem enriquecido em humus. São José dos Campos, foi o município que primeiro iniciou a cultura de arroz no Estado de São Paulo, cultura esta que se localizou nos vales do Paraíba e Jaguarí. Infelizmente a produção diminuiu bastante nestes últimos anos, dado os prejuízos da luta inútil e desigual do Paraíba, seus afluentes e o agricultor.

O homem cansado, abandona estas excelentes terras.

É o meio que vence!

A horticultura que encontra circunstancias favoráveis nesses terrenos, como riquezas de humus do solo e também a proximidade dos mercados consumidores, também está sendo abandonada. A inundação é o problema não só de São José dos Campos, mas de toda a chana da Zona Norte.

Apesar dos repetidos e constantes apelos que há mais de um século se vem fazendo nos nossos governos para construção de obras de defesa contra as inundações, até agora permanece insolúvel esse importante problema que não passa de objeto de debates (aliás frequente) das nossas diversas assembleias legislativas.

Os Estados Unidos há mais de 200 anos já fazia obras de defesa contra as inundações, elevando sua produção agrícola de seis milhões de contos anuais, a Hungria transformou as várzeas alagadiças do Tisza num grande celeiro da Europa, a Inglaterra conquistou a região do Fens que se tornou o maior centro de produção de cereais do país e os engenheiros franceses restauraram as várzeas do Mekong fazendo desaparecer dessa região o fantasma da fome, enquanto que nas várzeas do Paraíba, as portas de São Paulo permanece praticamente abandonada”.

Quando na Interventoria de São Paulo, o Dr. Ademar de Barros resolveu atacar o problema; o projeto foi maravilhoso. Gastou-se muito… nada se fez.

Abandonada a região inundável, próxima no Paraíba, o homem se distancia do grande rio e o vemos em regiões mais distantes, onde traça tabuleiros pelas curvas de nível e a terra amontoada forma diques sucessivos ou “marachas”, canais com comportas distribuem as águas.

Vemo-lo aí com suas culturas de arroz, cuja plantação é feita de setembro a dezembro. A cultura é mais dispendiosa, mas não tem o problema da inundação. Diversos agricultores iniciaram no município a cultura do arroz pelo método de “irrigação”, com instalações custosas e modernas de bombas possantes, para elevar as águas dos rios à canais de distribuição pelos tabuleiros entre diques, cobrindo vários hectares cada um. A inundação dos tabuleiros acompanha o movimento das plantas desde semeadura, em setembro, e sua plantação em outubro.

O milho também encontra em São José dos Campos, terreno propício a sua cultura e é aliás um dos seus principais produtos de exportação, juntamente com o algodão, derivados da cana e mandioca.


No vale do Jaguarí é feita a cultura de juta, pela Companhia de Fibras S/A. A situação dessa cultura é excelente.

Para o preparo das sementes foram construídos amplos terreiros, com a observância de todos os preceitos técnicos. Quanto ao maquinismo, é moderníssimo, fabricados exclusivamente para a Companhia, que é proprietária das respectivas patentes de invenção.

A cultura de frutas está em decadência no município. Quem percorria a estrada São José dos Campos – Buquira, há anos atrás, encontrava extensos laranjais, de onde saía elevada porcentagem da safra exportada pelo Estado. A citricultura encontrava nessa região as melhores condições de clima e solo das quais tiravam proveito centenas de fruticultores, que inverteram vultosos capitais na plantação e manutenção dos pomares. Todavia, quem hoje transita naquele mesmo trecho não mais vê laranjeiras enfileiradas ou frutos amarelos pendentes de sua frondosa copa.

Numa e noutra parte, esparsamente, se encontram vestígios do que foram os laranjais, apenas relembrados através de árvores isoladas, num último esforço de sobrevivência. Galhos ressecados, copa rarefeita e folhagem amarelecida.

Tudo isso resultante da “tristeza”, a doença que destruiu a citricultura paulista.

Em muitas áreas dos antigos pomares, extensas pastagens ou bosques de eucaliptos ameaçam cobrir os espaços ocupados pela riqueza decadente.

E a história que se repete… O mesmo aconteceu com os cafezais deste famoso vale…

A pecuária encontra em São José dos Campos meio próprio para seu desenvolvimento.

Aos seus terrenos adaptou-se admiravelmente diferentes raças bovinas europeias já aclimatadas no país. Dentre elas pode-se apontar a famosa raça mundial “Schvitz”, excelente produtora de leite e carne. É uma raça originária das íngremes montanhas da Suiça.

Temos a pequena “Kery”, que devido as condições naturais em que vivem seus representantes, no clima às vezes rigoroso da Irlanda, se tornou a mais rústica entre as leiteiras inglesas. E conheci da com o nome de “vaca do pobre” pelo grande serviço que presta às famílias menos abastadas do campo.

Ao lado do “Zebú” que com todos os defeitos, é de conhecida rusticidade e fácil criação, além das raças já mencionadas não são menos interessantes a ” South Devon” e a ” Caracú”.

Possui São José dos Campos, pastagens ótimas, temos o gordura que é representado principalmente pelas suas esplendidas variedades, o “rouxinnho”, “cabelo de negro”, o qual além de rustico é rico em substancias amilaceas. Outros capins como “rhodes”, grama comprida, “barba de bode” da Mantiqueira virão suprir as faltas daqueles em azoto e outros elementos de que se recente.

Essas terras possuindo possibilidades para o desenvolvimento da pecuária, principalmente nas regiões serranas, onde as águas são abundantes, surgem plantas tóxicas, conhecidas pelo nome de hervas.

Essas plantas, compreendem várias espécies e as variedades aqui observadas são as seguintes:

Herva de Rato – também conhecido por Tangaraca; compreende 6 ou 7 variedades, razão pela qual os roceiros de diferentes regiões mostram-nos esse vegetal com caracteres muito diversos.

A presença dessa planta indica o habitat do café. Suas folhas parecem com as do café, tanto na forma como no seu verde escuro. É no começo da primavera e no fim do inverno que os animais acompanham, justamente quando ela floresce estando então carregada de princípio tóxico.

É um veneno violento, com o qual o criador tem todo o cuidado isolando as matas e capoeiras onde ele é frequente.

Cobra – cresce em terrenos úmidos, à margem dos regatos e contém nos frutos a Osculina. É perigoso no princípio da primavera quando o gado anda a procura de brotos que são os primeiros a aparecer.

Além dessas espécies, há outras que raramente oferecem grande perigo. O sul de Goiás, Mato Grosso e do Paraná, possui condições ideais para indústria pastoril, porém devido a distância dos centros consumidores e a dificuldade de transporte, grande parte dos produtos derivados da pecuária perde seu valor.
Não se contando com o leite e seus produtos, a economia pecuária concentra-se somente no “boi tipo frigorifico”. Isto por estas paragens já não acontece, nem há possibilidade de acontecer porque ao lado do boi para carne, de facílima condução no consumo, é perfeitamente explorável em qualquer parte do município, a indústria de laticínios, quer sob a forma de queijos ou sob a forma de manteiga.


A Zona Industrial, apesar de recente está em franco progresso.

Encontramos aí os seguintes estabelecimentos:

Tecelagem Paraíba S/A.

Fábrica de Louças Sto. Eugenio

Fábrica de Porcelana Weiss

Malharia Alzira

Cerâmica Sta. Lucia

Rodhosá, atualmente em construção e cujo capital inicial será de duzentos milhões de cruzeiros.

Além dessas industrias, destacamos ainda outros de menor importância:

4 maquinas de café.

2 de arroz

7 de produtos de milho

11 de subprodutos de mandioca

Sant’Ana do Paraíba está incluída na Zona Industrial de São José dos Campos.

É um dos grandes bairros desta cidade, mas de população extremamente pobre. Liga-se à São José por uma avenida em linha reta, a Avenida Ruí Barbosa. Sendo a única via de comunicação, tem por isso tráfego intenso. E o ponto de passagem forçada dos habitantes de Buquira, Campos do Jordão, Patrocínio, São Francisco Xavier e sul de Minas Gerais sem contar os inúmeros bairros que o município tem além-Paraíba. A indústria deste bairro é representada por oficinas de funileiros, maquinas de beneficiar café, arroz etc. A indústria extrativa consiste em 8 olarias com produção mensal de 300.000 tijolos e diversas fabricas de artigo de cerâmica.

A ereção da estância trouxe vantagens não só para a cidade, mas também para toda a região do Vale do Paraíba, para o Estado, como também para toda a própria tisiologia, com a criação oficial de um centro de observações cura para os afetados do aparelho respiratório.

Estabelecendo nas bases de uma nova cidade, dotada dos mais modernos elementos de conforto de higiene, na criação da estância abriu rumos inéditos no progresso de São José dos Campos, que vive na gratidão de um imenso número de brasileiros.


A climatoterapia encontra na sede do município, uma de suas mais confortadoras aplicações.

A cidade, localizada sobre um platô, emerge, como por encanto, das vastas planícies que a cercar. É um verdadeiro reduto natural a cujo recinto alcandorado os doentes e os predispostos à tuberculose, vem buscar armas para a luta que empreendem. É o milagre da aeração da montanha em um clima de planície. A fraca altitude de São José dos Campos, 600 metros, equivalentes a 300 de um clima europeu, assegura a ausência de contra indicações desse clima verdadeiramente salutar no que se refere à tuberculose.

Nele curam-se equilibram-se tanto os casos incipientes com grande repercussão sobre o estado geral, como os crônicos com perturbações tóxicas circulatórias e nervosas.

Dele se beneficiam os portadores de tuberculose extensiva com pequena área respiratória ou de lesões cardíacas mal compensadas, como os velhos escleróticos.

São José dos Campos, é, assim o refúgio e o alívio dos tuberculosos de todas as formas e localizações. Deve-se esse fato a sua fraca altitude, bem menor ainda que a de São Paulo, ao contrário do que geralmente se pense.

Nas proximidades de São José não se encontram massas de água extensas. O curso de água mais importante, o rio Paraíba, passa em seu ponto máximo da cidade, a uma distância superior a dois quilômetros e o seu nível está a 30 metros abaixo do nível do platô. Por outro lado, o solo neste platô apresenta uma espessa camada de argila extremamente porosa, o que é comprovada pelo fato de não se encontrar no platô a menos de 20 metros de profundidade.

A combinação dos dois fatores – ausência de massas de água e extrema permeabilidade do solo – confere à atmosfera em São José dos Campos um grau de umidade extremamente baixo.

Para isso concorre também a distância em que se encontra da Serra do Mar, grande fator de deposição, sob a forma de chuvas, da umidade dos ventos oceânicos.

São José dos Campos apresenta o seguinte climograma:

Pressão barométrica (m. anual) – 717

Temperatura sensível – 17°

Temperatura média – 19° 4

Media das máximas – 26° 6

Medin das mínimas – 14° 2

Máxima absoluta – 36° 3

Mínima absoluta – 1°

Chuvas (quantidade em m.m.) – 13.551

Número de dias chuvosos no ano – 105

Número de dias claros – 156

Número de dias encobertos – 104

Ventos dominantes S.W.C.

Umidade relativa – 80

A secção hidromineral da Estância Hidromineral e climatérica de São José dos Campos fica localizado a cinco quilômetros do centro da cidade, compreendendo os primeiros contrafortes da serra da Mantiqueira.

Dispõe ela de cinco fontes cuja radioatividade variam de (5) a 16 maches.

Essas fontes foram descobertas em 1934 pelo engenheiro Dr. A. Alves de Almeida, que para isso procedeu demoradas escavações e pacientes pesquisas. Das várias analises de resíduos efetuadas, verifica-se que ela se inclui na classe das consagradas águas Sul Mineiras, pois que preponderam nos resíduos sólidos dessas águas (Cambuquira, São Lourenço e Lambarí), como nos das de Canindú, elementos muito aproximados em qualidade e quantidade.

As radioatividades de Canindú, são: 10,90 na fonte No 2; 12 na fonte No 3 e 16 na fonte No 6.
Esta ainda se mostra rica em azoto.

De acordo com o plano estabelecido pelo Governo Estadual, quando da criação de Estância Hidro – Mineral Climatérica, a cidade de São José dos Campos, foi dividida em 4 zonas: Sanatorial, Residencial, Comercial e Industrial.

Quem atualmente chega a São José dos Campos, tem a sua atenção voltada para as grandes áreas desapropriadas pela Prefeitura, necessária a abertura de avenidas e realização completa de seu plano urbanístico, que deverá em breve transformar a velha e simpática cidade do Vale do Paraíba, numa moderna e formosa cidade de repouso, de cura, de recreio, de turismo. Tudo caminho para isso.

Os visitantes não encontram em São José perigo de contaminação, porque nos hotéis e pensões destinadas às pessoas não contaminadas, o centro municipal de combate à tuberculose mantém rigorosa vigilância quanto ao recebimento de hospedes, acarretando às vezes episódios verdadeiramente dolorosos. Mas assim é preciso porque os visitantes teriam escrúpulos em hospedar-se em lugares que não lhes pudessem oferecer todas as garantias de imunidade.

Pessoa alguma pode permanecer nos hotéis ou pensões sem que tenha de submeter-se a exame de roentgenfotografial (método Manuel de Abreu) no Centro de Saúde.
Na Zona Sanatorial foi instalada um Pavilhão de Higiene, mantido pela Prefeitura Sanitária – os doentes pobres, que se recolhem a pensões modestas, e mesmos os de recursos mais folgados encontram grande dificuldade para a lavagem de suas roupas. Não só escasseiam as lavadeiras como nem todas se dispõem a lidar com essas roupas, por não terem como desinfetá-las convenientemente. Sabe-se de muitos casos de transmissão de moléstia por meio do continuado contato das lavanderias como as roupe que lhes eram confiadas. O Pavilhão de higiene foi criado para dar solução no problema e deu-o o mais satisfatoriamente possível.

Ali se instalaram várias estufas de desinfecção, grandes caldeiras a vapor, numerosos tanques de cimento para lavagem de roupas a água fervente, enxugadeiras mecânicas etc. No serviço de transporte das roupas são utilizados dois carros fechados – um que as recebe nos domicilio, e só se emprega neste mister, e outro que se encarrega da entrega. As roupas de uso pessoal e de cama, são cuidadosamente desinfetadas nas estufas, antes de chegar às mãos das lavadeiras do estabelecimento. Sofrem a seguir a demorada permanência nos tanques de água fervente, processando-se depois disso a respectiva lavagem.

Entre os Sanatórios, destacamos os seguintes:

Vicentina Aranha, Ruí Doria, Marin Imaculada, Ezra, Vila Samaritana, Ademar de Barros e São José.

Além dos Sanatórios, há também na Estancia numerosas pensões sanatoriais e prédios residenciais destinados aos que preferem a chamada “cura livre” ou que não possam internar-se por qualquer motivo naqueles estabelecimentos.


Centro Técnico de Aeronáutica

O Centro Técnico de Aeronáutica, em organização neste município, destina-se a execução de pesquisas e experiências que interessam a aeronáutica de um modo geral e à Força Aérea Brasileira, em particular. Dentro do Centro funcionarão a Universidade da Aeronáutica e o Instituto Tecnológico de Aeronáutico, órgãos do ensino técnico superior.

Não é necessário ressaltar o que significa para São José dos Campos tal empreendimento.

Largos horizontes se abrem para esta terra e imensas perspectivas se lhes apresentam mostrando o grau de adiantamento que alcançará dentro de pouco tempo. Para elaborar o projeto do Centro, que será um dos primeiros em todo o mundo, o Ministério de Aeronáutica selecionou os melhores escritórios de arquitetura do país, sendo escolhidos os seguintes: Afonso Eduardo Reidy, Oscar Niemeyer, Marcelo Roberto, Benedito de Barros e Companhia Brasileira de Engenharia. Foi escolhido o projeto de Oscar Niemeyer, o que quer dizer que todas as construções terão cunho modernista, pois o referido arquiteto é um dos maiores batalhadores pela arquitetura moderna, renovadora, no Brasil De acordo com os dados que conseguí colher, o C.T.A. constará do seguinte: a) Aeródromo; b) Zona Industrial; c) Zona Residencial; d) Zona Recreativa; e) Zona Escolar; f) Aeroporto Militar; g) Aeroporto Civil; h) Aeroclube; i) Hospital.

O Aeródromo possuirá 3 pistas, de concreto ou asfalto, sendo uma de 4.000 metros de extensão e outras de 2.000 metros cada uma.

Na Zona Escolar será instalado a Universidade de Aeronáutica, destinada a frequência de alunos civis e ambos os sexos, prevendo-se uma minoria de elemento feminino, os quais terão o mesmo tratamento dispensado nos internatos das Universidades Americanas.

Os professores serão em sua maioria americanos pelo menos no início, e os assistentes, na maioria, brasileiros. Essas escolas serão inicialmente, as seguintes: Escola Preparatória, Escola de Engenharia Aeronáutica, Escola de Engenharia Eletrônica, Escola de Aerologia, Escola de Comércio Aéreo e Escola Professional.

Cada Escola terá suns instalações própria, com amplos salas de alunos, laboratórios especializados, biblioteca para 200.000 volumes, auditório com capacidade para 600 alunos, etc.

A Zona Industrial será localizada independente das escolas. Nela serão instalados: laboratórios de Aero Instrução Industrial, laboratórios de Aero Pesquisas, laboratórios de motores, laboratórios de ensaios e os túneis aerodinâmicos, para provas de aviões e motores.

A zona residencial será do tipo misto, com habitações isoladas para os diretores e catedráticos. As residências, destinadas a abrigar 1.500 alunos, 1.000 membros do pessoal docente e administrativo e 1.500 membros das famílias das pessoas referidas, serão construídas isoladamente, tendo cada uma sua área de terreno própria, no sistema da cidade jardim. Também na Zona Residencial serão instalados um restaurante, um reembolsável e uma Escola Primaria. A Zona Recreativa será localizada completamente separada e independente das demais, e se destinará a atender, simultaneamente, ao C.T.A. e a São José dos Campos. Compreenderá um Clube, destinado à reunião do pessoal do Centro para fins exclusivamente sociais; um Ginásio para jogos em dias de inverno ou de chuvas, o qual disporá de uma biometria, uma sala de curativo e repouso, além de chuveiros e vestiários com 350 armários: Estádio para competições, destinado a servir ao Centro e a cidade de São José dos Campos e ás competições das olimpíadas do interior, constando de arquibancadas para 10.000 pessoas; campos de futebol, pista de corrida a pé, pista de salto em altura, pista de salto com vara, quadra de basquete, quadra de tênis, pórtico de ginástica e locais para lançamentos de peso, martelo, dardo e disco. Cinema e teatro, dotado de ar condicionado e com 3.000 lugares na plateia e piscinas, sendo uma para competição e treinamentos olímpicos de natação, uma para competição e treinamentos olímpicos de saltos e outra para recreação infantil. Essas piscinas serão dotadas de arquibancadas para 5.000 pessoas. Um lago represado, com dimensões suficientes para permitir a pratica de esportes náuticos. Instalados, além dos campos de jogos existentes no estádio, mais os seguintes: um campo de futebol de dimensões reduzidas, para moças e juvenis, um campo de futebol, de dimensões reduzidas, para infantis, 10 quadras de voleibol, 6 quadras de basquete, 6 quadras de tênis, um pórtico de ginastica, pistas para saltos e corridas, pista der obstáculos para equitação e playgrounds.


No C.T.A. será instalado um moderníssimo hospital, com instalações para clínica de doenças relacionadas com atividades aéreas, clínica geral, clínica infantil, sendo dotada, também uma maternidade.
Para facilitar as comunicações com o Centro serão construídas nova estradas e variantes: uma variante para a estrada Rio-São Paulo, asfaltada com 50 metros de largura e rampas de 30%. Uma variante para a estrada São José dos Campos-Paraibuna, pavimentadas com macadame betuminoso e com rampas máximas de 6%. Vias de comunicação interna entre as diferentes zonas que terão as características admitidas para ruas internas de cada zona, constituindo um prolongamento das mesmas, pavimentadas com asfalto. Ramal da Estrada de Ferro Central do Brasil destinado a servir o Centro, o qual possuirá uma estação de embarque e desembarque.

O C.T.A. terá para seu uso próprio rede de distribuição de energia elétrica, rede de abastecimento de água, rede de esgotos e rede de drenagem das águas pluviais. Este é pois, um resumo do que será o Centro Técnico de Aeronáutica, a ser instalado nesta cidade e que projetará o nome de São José dos Campos além das fronteiras nacionais, como um grande centro de pesquisas modernas no terreno das atividades aéreas.

POQUE O CENTRO TECNICO DE AERONAUTICA SERÁ INSTALDO EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS?
A instalação do Centro Técnico atrairá, no futuro, para suas imediações, os estabelecimentos de indústria aeronáutica que surgirem no país, caso as condições locais proporcionem trabalho econômico e, havendo espaços disponível, o governo permita tal localização; as únicas zonas do Brasil que, presentemente, permitem a instalação da indústria aeronáutica estão nas vizinhanças do Rio de Janeiro e de São Paulo, num raio mais ou menos de 80 quilômetros.

A maior eficiência de cooperação entre o C.T.A. e essa indústria poderá ser obtida se a distância respectiva não for muito grande, o que faz prever, para permitir a futura expansão do Centro, a necessidade de uma área de mais ou menos doze quilômetros quadrados, inclusive o aeroporto localizado numa região que possui, num raio médio de vinte quilômetros, mais uma dezena de locais semelhantes que permitam a instalação da indústria da aeronáutica.

Os vários tipos de laboratórios do Centro retirarão das linhas elétricas de transmissão energia que poderá atingir, eventualmente, 75.000KW, as indústrias de aviação que se estabelecerem nas vizinhanças consumirão provavelmente, outro tanto, não havendo energia disponível na zona do Rio de Janeiro e havendo possibilidade de mais fácil obtenção dessa energia na zona de São Paulo, a preferência deve ser dada a à essa última localização.

A experiência universal, tem indicado, que é eficiência e a qualidade de uma escola ou de um laboratório aumentam com a diminuição da temperatura média ambiente; em virtude das razões climáticas, há, portanto ,vantagem em preferir a vizinhança de São Paulo à do Rio de Janeiro e, ainda por maior razão, a área de São José dos Campos, cujo clima ameno e puro é bastante conhecido.

A vida agitada dos grandes centros de sociedade e de governo, como São Paulo e Rio de Janeiro, resultando num ambiente pouco propicio à educação da mocidade e conduzindo a uma ideia errônea sobre o que constitui uma carreira sã e produtiva, de termina, por outro lado, uma localização que não seja demasiadamente próxima dessas cidades.

Corroborando com essa razão, basta citar, por exemplo, o fato de que nenhuma das quatros grandes universidades de Washington, foi bem sucedida em produzir homens dos comparáveis em outros lugares dos Estados Unidos. (Palavras do Prof. R. H. Smith na Conferência realizada em 26/9/45. a convite do Instituto Brasileiro de Aeronáutica.)

Resumindo: o planalto em que está localizado o Aeroclube de São José dos Campos satisfaz a todas as condições, porque: pode dispor facilmente da energia elétrica necessária, tem acesso marítimo fácil para o material pesando através do porto de São Sebastião, caso se concretize a ideia de levar de São José a São Sebastião um ramal da E.E.C.B. já estudado; possui temperatura amena e bom clima; dispõe em seus arredores, de lugares espaçosos para instalação da indústria de aviação e está no coração industrial do Brasil, distante apenas uma hora de voo do Rio de Janeiro e 20 minutos de São Paulo.

Laranjais cortados para lenha.
A grande riqueza pastoril de São José, o gado leiteiro.


Traga sua história para ser contada!
Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
Midias Sociais: sjcantigamente
Whatsapp: (12) 99222-2255
Email: sjcantigamente@gmail.com

Comente se há informações extras, escreva suas recordações ou mesmo o que achou desta publicação. Agradeço por sua participação!