Na clandestinidade do PCB e nos anos de chumbo, Luiz Carlos dos Santos era o “homem do chapéu preto” ou da “pasta preta”. Sempre de terno escuro ou cinza, chapéu da mesma cor e carregando a pasta preta, o representante comercial de uma empresa do sul tinha uma análise da conjuntura política nacional e internacional na ponta da língua para discutir.
Com a democracia, passou a ser chamado só pelo nome ou carinhosamente Luiz Carlos “Pastinha”. Não havia mais necessidade de codinome e a “reação” não precisava mais estigmatizar ninguém. O analista implacável, no entanto, persistiu até o fim.
Dias antes de sua morte no final da semana passada, encontrei-o na Praça Cônego Lima. Já com 92 anos, não apresentava mais aquela vitalidade de tempos atrás, mas, lúcido, desfiou-me duas análises. Uma da conjuntura internacional, discorrendo sobre a China como maior potência mundial emergente. E outra, sobre a conjuntura nacional com críticas ao governo Lula, “que nunca nos enganou”, antecipando-se ao rompimento do PPS.
Morreu o velho comunista. Os sinos dobram! Deve ter voltado às páginas dos livros de Graciliano Ramos ou Jorge Amado, de onde saiu para conviver conosco durante décadas, sempre abrindo as reuniões de incontáveis “ativos” em plena praça pública da cidade com suas análises de conjuntura. (2004)
Luiz Paulo Costa – Jornalista
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