Matéria veiculada no jornal AGORA , do dia 29 de dezembro de 1984 , o artigo foi transcrito por Kleo Ljubisavljevic Soares, escrito por Bethy Costa e a fotografia por Fernando Ferreira, em homenagem à família Amaral Mello que que Kleo teve o grande prazer de conhecer quando jovem.
Quando chegamos à casa dos Amaral Mello, encontramos quatro irmãos unidos simpáticos e muito hospitaleiros. Eles estavam assistindo o Bolero de Ravel n.º 2 no horário nobre da Globo. Havia a mais velha, com 87 anos e o caçula com 61. Uma vivência e tanto que nos fez viajar com suas andanças pela vida e pelo mundo. Tomamos licor de cereja, comemos chocolate e geleia de manga. Conversamos sobre muitas coisas. Falamos sobre São José dos Campos antiga e a comparamos com os dias de hoje. Quantas diferenças. Quantas lembranças. Quantas experiências.
Antônia Amaral Mello, uma senhorinha alegre e muito disposta, hoje (dezembro 1984) com 87 anos, nasceu numa Fazenda em Monte Santo, Minas Gerais, na época que Wenceslau Braz era promotor público na cidade. Foi ainda criança para São Paulo e lá estudou até o Normal, mudando-se depois para Ribeirão Preto, onde lecionou cerca de 16 anos. Em 1939 veio para São José e lecionou no Grupo Escolar Olímpio Catão por seis anos e, ficando comissionada, atuou como presidente da LBA (Legião Brasileira de Assistência) durante 25 anos.
Nesses anos todos, Antônia fez parte da equipe de assistência à maternidade e infância, aos tuberculosos, aos pracinhas da FEB, aos indigentes, às famílias carentes e fundou a Associação das Mães e a Rede Feminina de Combate ao Câncer. Depois de 25 anos, voltou a lecionar por mais seis meses, aposentando se do magistério, mas não deixando de lado suas atividades na LBA. E pelo muito que fez por nossa cidade, recebeu o título de Cidadã Joseense, em 1975.
Ela lembra de São José dos Campos pequena. “Quando era conhecida como uma estância climática, propícia para a cura de tuberculosos. Os doentes chegavam aqui a toda hora, alguns em estado grave. Muitas vezes não tínhamos onde colocá-los, pois a LBA não tinha hospital e então, éramos obrigados a fazê-los voltar para suas cidades de origem. Era uma cidade muito diferente dessa que vemos hoje. Grande, bonita, com gente vendendo saúde”.
“Naquela época, os doentes ficavam em porões, e saia para pedir comida nas casas. Quando o frio apertava, era muito ruim, muitos deles morriam, porque não havia tratamento suficiente. Antônia nos conta que quem cuidava dos doentes eram moças de um pensionista de São Paulo. Juntamente com irmã Dulce Rodrigues dos Santos, depois Madre Tereza, e daí surgiu a Congregação das Pequenas Missionárias de Maria Imaculada, que ajudou também na criação do Hospital Infantil Antoninho da Rocha Marmo, na Casa Santa Inês e Hospital Pio XII.
Antônia fez o curso de Enfermagem de Guerra, em Ribeirão Preto e na Revolução de 32 cuidou dos feridos na Santa Casa de Ribeirão Preto. Mas ela não lembra só de coisas ruins, como a revolução que presenciou, quando socorria feridos ensanguentados e gangrenados. Lembra também do ano de 1910. “Quando eu tinha 13 anos, apareceu o cometa Halley, lindo e brilhante. Ele aparecia a tarde e tomava metade do céu. A gente era criança e achava aquilo lindo, bonito, grandioso, mas nossa empregada falava para entrarmos em casa, que o mundo ia acabar.”
Em tantos anos de vida, Antônia conheceu muita gente que fez nossa História. Assistiu em São Paulo, junto com seu pai as solenidades da chegada de Afonso Pena, Cardeal Arcoverde, Ruy Barbosa e conheceu, através de um tio, o pai da aviação Santos Dumont .Se a gente pudesse ficar conversando a noite toda, teríamos material para um livro, mas ainda pretendemos conversar com seus irmãos e nosso espaço é limitado e por isso pedimos à Antónia que nos falasse sobre suas expectativas para o ano que vai começar.” A gente sempre tem esperança que o Ano Novo seja melhor. Neste ano que acaba, minhas esperanças não foram frustradas e sempre dou graças a Deus por ter uma família unida. Espero que Associação das Mães e do Combate ao Câncer encontre sempre pessoas dedicadas e que não deixem morrer essas duas grandes obras. Sou muito grata ao povo e às autoridades joseense, que sempre me apoiaram e incentivaram nos trabalhos que realizei.”
Padre Geraldo, um dos irmãos de Antônia, com a experiência de 71 anos, mora em São Paulo (está aqui de férias) desde os 18 anos, quando entrou para o Seminário da Freguesia do Ó, ordenando-se padre em 1938. Foi coadjutor de Santa Cecília, trabalhou nas obras da arquidiocese e participou da fundação das Escolas Apostólicas da Arquidiocese para recrutamento para vocações.
Em 1942 quando faleceu seu irmão mais velho, Padre José de Melo, padre Geraldo foi designado a substituí-lo, ocupando o lugar de diretor Espiritual do Seminário Central do Ipiranga, onde ficou vários anos. Mais tarde foi para Petrópolis, onde ocupou os cargos de diretor espiritual da Federação das Congregações Marianas daquela Diocese. Em 1960, regressou a São Paulo e junto com um grupo de leigos, fundou o Movimento de Conscientização Cristã que tem por objetivo da assistência espiritual aos tuberculosos, nos sanatórios.
Por vários anos, ajudou a paróquia de São Francisco Xavier, no Jardim Japão e foi também Cura da Catedral da Sé, em São Paulo. Sua vida tem tantas passagens interessantes, que viajamos por várias cidades e países. Atualmente padre Geraldo é presidente do Cabido Metropolitano em São Paulo onde ingressou como cônego honorário em 1943 além de ser também assistente eclesiástico da Sera Clube de São Paulo “é continuo dando assistência espiritual, atendendo doentes e ajudando algumas paróquias da periferia”.
E ai estão 46 anos de vida sacerdotal. E como estamos quase começando mais um ano novo, padre Geraldo diz que “devemos render graças a Deus por todos os benefícios do ano que está terminando em ingressar no novo ano sempre guiados pela luz da esperança cristã de dias melhores para a humanidade. Pedindo a Deus que haja menos ódio e mais amor, menos egoísmo e mais solidariedade. E que todos os cristãos tomem consciência de sua grande responsabilidade no mundo de hoje, pois como dizia um grande escritor católico:” No começo do cristianismo, a missão da Igreja era batizar os convertidos e hoje em dia, sua grande missão é converter os batizados”.
O caçula dos Amaral Mello, é Padre Ruy que aos 61 anos de idade, transmite uma alegria incrível de viver. Ele nasceu em Ribeirão Preto e mudou-se para São Paulo em 1937, onde terminou o curso secundário no Liceu Sagrado Coração de Jesus. Depois de dois anos imobilizado, para tratamento de osteomielite, terminou todos os estudos suspensos e ingressou no Seminário Maior de São Paulo, com estudos especializados em latim e grego. Este último ministrado aqui em São José dos Campos pelo Professor Domingos de Macedo Custódio.
Padre Ruy iniciou seus estudos no seminário central do Ipiranga, em 1945 e seis anos depois que recebia a ordenação sacerdotal, transferindo-se logo em seguida para o Seminário Menor de São Roque onde lecionou por 15 anos, inúmeras matérias. Durante esses anos, exerceu a função de diretor espiritual dos seminaristas menores, trabalhando igualmente na Paróquia de São Roque, cidades vizinhas e várias igrejas de São Paulo.
Em 1967, transferiu-se para o Santuário de Nossa Senhora da Penha, onde permaneceu durante sete anos, três dos quais como vigário e em seguida exerceu o ministério como Vigário na Paróquia de São Francisco Xavier. Logo depois fui designado para um curso de Vivência Bíblica na cidade de Friburgo na Suíça e durante dois anos, junto com os integrantes de 28 países, viviam as linhas da Palavra de Deus, na chamada Escola da Fé. Regressando ao Brasil foi incumbido de cuidar da promoção vocacional e desde 1979 dirige uma casa de teologia, onde brevemente serão ordenados sacerdotes, cerca de dez estudantes.
Nesses dez anos de vida sacerdotal, Padre Rui participou de Congressos Eucarísticos, em Bogotá (Colômbia), Melbourne (Austrália) e do Congresso Mundial de Cursilhos no México. E como seu otimismo é constante ele nos dá uma mensagem:” Um olhar para o Cristo no dizer de São Paulo, sendo rico se fez pobre, para que através de sua pobreza nós nos enriquecemos “. Se soubermos valorizar a riqueza que Ele veio nos trazer, como sinal profundo de amor do Pai, será possível construir um mundo de justiça, paz e amor, antevendo horizontes luminosos no Ano Novo que se aproxima”.
O quarto irmão que nos recebeu, Mariano, de 72 anos de vivência, não conversou muito, pois estava adoentada e logo se retirou, nos deixando à vontade e, com um largo sorriso nos deu “boa noite”. Segundo ficamos sabendo, Mariano além de ter um gosto apuradíssimo é um profundo conhecedor da música erudita, capaz de reconhecer, não sou a música de concerto e seu autor, como também a qualidade do solista.
Uma família gostosa de se ver e ouvir, que irradia felicidade, realização e harmonia. Na hora de irmos embora, Antônia nos perguntou se nossa família é daqui. Como respondemos que não, ela nos disse sorrindo :Quando vocês se sentirem sozinhos, venham para cá. A casa também é de vocês”.
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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente