O câncer levou meu amigo Carlos Alberto Arrebola aos 55 anos de idade no dia 27 de novembro de 2020. Carlos era programador de computadores, astrônomo e tradutor multilinguista. Nos encontramos pela última vez em 2019, quando ele me doou um pouco mais do acervo de Remo Cesaroni já publicado neste site.
Presidente do grupo astronômico Alpha Crucis no início dos anos 80, foi um lutador pelo tema no município, onde chegaram muito próximos de construírem um novo observatório aqui, já que o publico era órfão de ter contato com as estrelas desde o falecimento de Remo em 1968.
Abaixo vocês terão acesso a um histórico muito interessante nunca antes revelado na internet, em mais um capítulo da missão do São José dos Campos Antigamente em resgatar e valorizar nossa história.
HISTÓRICO
– 1943 – Fundação do 0bservatório GALILEU GALILEI por iniciativa própria do Comendador REMO CESARONI, natural de Roma, Itália. Construção de cúpula, onde localizou um telescópio Newtoniano de 25cm de diâmetro, com biblioteca instalada na parte térrea. Edificação de outra cúpula com outro refletor Newtoniano, com dependências para palestras e sala de visitas, incluindo um escritório. Seguiu-se ainda outro prédio construído para alojar um telescópio refrator com foco de 1500mm e 100mm de diâmetro. O professor Remo Cesaroni contava ainda com a colaboração do Professor DOMINGOS DE MACEDO CUSTÓDIO, catedrático de português e na função de Diretor Técnico do observatório.
– 1968 – Falecimento do Comendador REMO CESARONI, encerrando assim as atividades do observatório GALILEU GALILEI.
– 1976 – Doação do equipamento do observatório GALILEU GALILEI, à prefeitura pela esposa de CESARONI. Primeiros contatos feito pela então Secretária de Educação, Sra. Fátima Manfredini, com Professor Rodolfo Vilhena de Moraes, chefe do Departamento de Astronomia do ITA, para que o acervo do antigo observatório GALILEU GALILEI fosse utilizado, adequadamente pela comunidade. Fundação do grupo de trabalhos na tentativa de levantar uma sociedade amadora de astronomia para auxílio à prefeitura na manutenção e utilização dos equipamentos. A sociedade então se chamaria SAAVALPA, Sociedade de Astrônomos Amadores do Vale Paraíba, contando com o auxílio de pessoas como José Antônio Pena Fernandes, cujo entusiasmo o trazia de São Paulo todos os fins de semanas para participar e proferir palestras. Doação de terreno pela administração municipal para construção do observatório astronômico. Primeiras tentativas de se esboçar a planta do observatório. Elaboração de estatutos para registro da Sociedade.
– 1977 – Palestras semanais no auditório do SESC. Algumas das palestras foram levadas para as escolas de município. Foram feitos contatos com a prefeitura para elaboração final do projeto e orçamento de um observatório.
– 1978 – Com a retirada de alguns membros, por motivos particulares, a sociedade se manteve latente mas mantendo as reuniões semanais principalmente por iniciativa do professor Rodolpho Vilhena de Moraes e do Eng. Henrique Moraes Borges de Carvalho. As reuniões eram mantidas numa sala do Ginásio Estadual Maria Aparecida Ronconi.
– 1979 – Retomada a tentativa de organizar os estatutos para registro da Sociedade. Reuniões foram feitas no sentido de manter viva a ideia de se fundar a Sociedade de Astronomia, principalmente com o intuito de se iniciarem os trabalhos de manutenção dos equipamentos que se constaram em deterioração.
– 1980 – Iniciativa de grupos de trabalho na manutenção dos equipamentos.
Foi feito um levantamento geral com vistas a equipar um futuro observatório municipal e restauraram-se alguns equipamentos mais simples. Reuniões mensais eram mantidas para se dar continuidade à divulgação da astronomia. Iniciou-se um movimento burocrático para o registro da sociedade, com fundos obtidos de doações feitas pelos elementos ligados as ideias da fundação da Sociedade. Há de se ressaltar o entusiasmo mantido através do idealismo do Eng. Henrique Moraes Borges de Carvalho e a contínua orientação do Prof. Rodolpho Vilhena de Moraes.
– 1981 – Primeira Assembleia Geral da Sociedade, dando por fundada a SOCIEDADE DE ASTRONOMIA ALPHA CRUCIS (SAAC), com a apresentação dos estatutos, registro em Diário Oficial e a presença do então prefeito, Sr. Joaquim Bevilacqua. A assembleia deu como admitidos os seus 31 primeiros sócios. O primeiro conselho executivo foi empossado com o Presidente Eng. Henrique Moraes Borges de Carvalho, constituindo a chapa única apresentada para o voto. A Sociedade manteve reuniões de divulgação e manutenção aos equipamentos instalados precariamente no Dep. de Merenda da prefeitura. Foram feitos contatos com o INSTITUTO DE PESQUISAS ESPACIAIS (INPE), mantidos entre o presidente da Sociedade e o Sr. Marcos Antonius Andrade Siqueira, responsável pelo laboratório de alto vácuo do INPE, no sentido de se obter a aluminização de três espelhos dos telescópios Newtonianos que se encontravam deteriorados. Dentro das possibilidades, O INPE atendeu a todos os pedidos.
– 1982 – Iniciativa de manutenção de equipamentos mais sofisticados, inclusive a criação de um grupo de trabalho, através de contato feito pelo sócio José Leonardo Ferreira com o professor Everaldo Passos da escola ETEP, para construção de um pedestal com montagem e acompanhamento equatorial, para substituir o sistema danificado e o tripé do telescópio Newtoniano de 12cm, com início do projeto do mesmo. Foram mantidas as reuniões semanais com inclusão de cursos correlatos e a Assembleia Geral que reelegeu o Eng. Henrique Moraes Borges de Carvalho para uma nova gestão.
– 1983 – Alegando dificuldades, o presidente da sociedade Eng. Henrique Moraes Borges de Carvalho e o primeiro Tesoureiro Odair Lélis Gonçalez pediram demissão. A sociedade se organizou interinamente com o vice-presidente Carlos Alberto Arrebola assumindo a presidência, já organizando as atividades de 1983 e as sumindo a responsabilidade de fazer contato com a Secretaria de Educação, Sra. Iara Lea Marinho de Carvalho.
Abaixo algumas fotos da época em que Carlos trabalhou na EMBRAER em 1983.
Texto da Alpha Crucis sobre a importância da criação do observatório municipal
Em 1986 haverá uma aparição do cometa de Halley que se dá em intervalos normais de 76 em 76 anos. É raro alguém se lembrar de tê-lo visto mais de uma vez já que o seu período de aparição cobre praticamente o tempo de vida médio do ser humano… muitos morrem sem vê-lo e sua última aparição foi em 1910. Esse cometa é o maior e o mais importante do sistema solar e sempre que passa próximo à Terra, mobiliza a curiosidade e a crença popular para o fenômeno.
A Sociedade de Astronomia Alpha Crucis está desde já, preparada para fazer demonstrações, palestras e áudio visuais sobre essa aparição, porém é de consciência que a construção de um Observatório Astronômico Municipal até início de 1985 é indispensável para atender a curiosidade mínima que surgirá entre os munícipes. A sociedade já tem planos de acompanhamento desse cometa que estão sendo detalhados por seus membros técnicos, a fim de se adotar uma linha de pesquisa observacional e fotográfica a partir de meados de 1985, quando o cometa já poderá ser observado pelos telescópios que a prefeitura dispõe.
Esse Documento – Síntese da Sociedade de Astronomia Alpha Crucis tenta mostrar a prefeitura de São José dos Campos que possui uma equipe qualificada para prestar serviços gratuitos à municipalidade, desde que haja interesse e apoio por parte dessa prefeitura nas atividades de divulgação dessa Sociedade e na construção até 1985 do OBSERVATÓRIO ASTRONÔMICO MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS.
SAAC
Uma das reuniões para a observação celeste
A matéria abaixo foi extraída do Jornal Agora
São José pode ter novo observatório
O plano é resgatar o velho sonho de Remo Cesaroni e construir um novo observatório astronômico na cidade. Mas quando isso acontecer, o Halley já estará longe…
Se o comendador Remo Cesaroni fosse vivo, com certeza a população de São José dos Campos seria privilegiada para assistir com detalhes à passagem do Cometa de Halley. Isso porque o italiano Cesaroni, um eterno apaixonado pela astronomia, possuía um dos mais bem equipados observatórios astronômicos amadores das Américas, na década de 60. Mas, o descaso do Poder Público com relação ao patrimônio do Observatório Astronômico Galileu Galilei, deixado pelo comendador — que faleceu em 68 — simplesmente não vai permitir que os joseenses desfrutem de uma observação mais apurada do cometa.
O abandono do “Galileu Galilei” — que funcionava na Vila Ema, ao lado do Cine Planetário — Começou justamente com a morte do comendador. Era seu desejo que o acervo do observatório fosse doado a uma instituição que pudesse fazer uso dele para que se continuasse divulgando a astronomia. Júlia a viúva de Cesaroni, decidiu então doar tudo para a Prefeitura. Mas, nas mãos do serviço público, o observatório começou a definhar. As peças foram desaparecendo; não havia manutenção e o tempo se encarregou de mutilar a maioria delas.
Um novo observatório?
Se comparado ao que existia antes, o que restou dos equipamentos é de dar dó. Durante muito tempo eles foram jogados de um lugar para outro, até que por vários anos ficaram abandonados em um depósito de merenda escolar da Prefeitura, na Vila Industrial. Remo Cesaroni, nessa época, certamente cairia em prantos se deparasse com o que restou, e o estado em que se encontrava o seu arrojado empreendimento. Refletores incompletos; lunetas valiosíssimas enferrujando; máquina fotográfica astronômica espacial encostada e necessitando de urgente limpeza em suas delicadas peças; poliscópio; epidoscópios jogados num canto de prateleira; globos terrestres e celestes raros, que não mais se encontram no mercado, também abandonados; e vários livros, fotos espaciais que começaram o processo de amarelamento, expostas que foram à claridade do sol igualmente jogadas a um canto.
A partir de 1976 alguns grupos de trabalho se prontificaram em colaborar com a Prefeitura na manutenção e utilização dos equipamentos. Muitas promessas de se construir um novo observatório, restaurando os equipamentos do “Galileu Galilei” foram feitas pela Prefeitura, mas nenhuma foi cumprida. Em 1981 foi criada a Alpha Crucis, a primeira sociedade de astronomia de São José dos Campos, que tinha como principal objetivo restaurar todos os equipamentos e reaproveitá-los em um novo observatório, cuja planta também já tinha sido elaborada pela sociedade.
Em contatos que manteve em 1983 com a secretária municipal da Educação, Iara Marinho, o presidente da Alpha Crucis, Carlos Alberto Arrebola, conseguiu retirar algumas lunetas do depósito e restaurá-las com a ajuda de outros membros da sociedade que trabalham no Inpe. Carlos também possui vários livros e fotos espaciais que pertenceram ao observatório. Mas isso não é suficiente, pois OS equipamentos maiores e mais pesados continuam no depósito e, logicamente, continuam sofrendo o desgaste do tempo.
módulos, sendo que num primeiro momento a Prefeitura deverá arcar com as despesas. E depois de pronto o primeiro módulo, o próximo passo será conseguir o apoio financeiro das indústrias locais para dar continuidade às obras e, principalmente, recuperar o restante do material.
Até agora não foi possível à Secretaria de Obras fazer o levantamento dos cursos e tampouco determinar quando deverão ter início as obras. Segundo Carlos Alberto “a construção do laboratório não é tão complicada, além disso, para restaurar os equipamentos seria necessário apenas um mês, isso em ritmo acelerado e utilizando o laboratório a vácuo do Inpe”.
Apesar da Alpha Crucis ter lutado vários anos seguidos para que fosse construído um novo observatório, principalmente para dar oportunidade à população de assistir com privilégio à passagem do Halley – Carlos Alberto lamenta muito que isso não poderá acontecer antes da aparição do cometa. “É lastimável saber que a cidade possui equipamentos que proporcionariam um verdadeiro show de imagens, e que estão enferrujados e abandonados. O pior – diz ele – é que não temos certeza se esse projeto vai finalmente sair do papel ou se vão esperar pela próxima aparição do cometa, daqui a 76 anos”.
Decididamente Remo Cesaroni era um apaixonado pelo céu, pelos astros e estrelas. Ele queria que toda a população dos técnicos aos mais humildes, compartilhassem da visão deslumbrante do infinito. O observatório criado por ele, com livre acesso para os escolares e trabalhadores, foi um acontecimento em 1943. A cidade ficou encantada com as lunetas poderosas que traziam quase à mão os segredos das estrelas.
O professor Domingos de Macedo Custódio, que durante os 25 anos de existência do Galileu Galilei atuou como diretor técnico do observatório, observa que alguns equipamentos haviam sido importados do Japão e o restante fabricados em São Paulo. O observatório possuía duas cúpulas com lunetas de grande profundidade cósmica, e além disso contava também com uma astrocâmara onde eram reveladas as fotos espaciais tiradas por instrumentos de alta precisão, e tinha ainda mais de 70 lunetas.
O professor Custódio lembra que nas épocas das luas minguante e crescente era possível observar com clareza o planeta Marte, distante da Terra 70 milhões de anos-luz. Nessas épocas Cesaroni gostava de levar seus instrumentos as praças públicas, onde as pessoas formavam filas esperando a vez de “chegar perto dos astros” Cesaroni como pai, professor e inventor, explicava tudo.
O professor Custódio se recorda que em uma dessas vezes, ele e o comendador levaram as lunetas e instalaram-nas numa praça em Jacareí, de forma que fosse possível vera Lua. “Quando chegou a vez de um caboclo da roça observar – conta O professor — ele ficou vários minutos diante da luneta e depois perguntou perplexo: Ué, cadê o São Jorge?”
Nesse dia Custódio disse que o comendador não conseguiu continuar com o trabalho. Recolheu tudo e foi para casa, estudar um meio “para responder a esse tipo de pergunta”.
São José dos Campos estava entrando, sem saber, na era do futuro. O extraordinário comendador jamais poderia imaginar que a cidade dos mineiros se transformaria algumas décadas depois na capital tecnologia do país. Galileu Galilei viveu 25 anos de glória. Justamente em seu jubileu de prata Cesaroni Morreu. E com ele o empreendimento-orgulho da cidade, o observatório que fazia São José melhor, mais adiantada, mais sofisticada que as outras cidades do Vale do Paraíba. O professor Custódio afirma que se o observatório existisse hoje, seria possível observar o cometa de Halley da melhor forma possível, com seus flocos esbranquiçados e brilhantes.
Edna Petri para o Jornal Agora, em outubro de 1985.
Câmara Municipal de São José dos Campos
Em 20 de novembro de 1985
Of.no 01 4624
Excelentíssimo (a) Senhor(a):
De ordem do Senhor Presidente, Vereador Antônio José Mendes Faria, cumpre-me encaminhar a Vossa Excelência cópia do Requerimento no 2 231, de autoria do Vereador FERNANDO DELGADO (PMDB) ……….. aprovado em Sessão Ordinária realizada na noite de ontem.
Limitado ao exposto, prevaleço-me da oportunidade para protestar votos de estima e consideração.
JOAQUIM HILÁRIO NETTO
Diretor Geral
Exmo. Sr. CARLOS ALBERTO ARREBOLA
DD. Presidente da Sociedade Astronômica Alpha Crucis
Câmara Municipal de São José dos Campos
REQUERIMENTO no 2.23
Parabeniza a iniciativa de reinstalação do Observatório “GALILEU GALILEI”.
Senhor Presidente
Remo Cesaroni pode ser arrolado na galeria dos gênios.
Estudioso de Astronomia, Pintor, Mecenas, Poeta, genial, fez da vida uma Opera, misturando sonhos e realizações.
Seu grande projeto foi o Observatório “Galileu Galilei”, que montou sem qualquer ajuda do poder público e que projetou São José dos Campos, O Observatório foi praticamente destruído, após sua morte.
Os aparelhos e instrumentos muitos se perderam, outros se deterioraram, restando alguns, pela iniciativa de amigos e aficcionados da Astronomia.
Agora, sensível a importância do “Galileu Galilei”, a Prefeitura Municipal resolve investir no Projeto de sua reconstrução.
Por isso, parabenizamos ao Prefeito ROBSON MARINHO, à Vereadora TEREZA DEGÁSPERI, que intermediou os entendimentos, ao Professor DOMINGOS DE MACEDO CUSTODIO, velho batalha dor dessa causa, à sociedade ALPHA CRUCIS, ao Secretário de Obras SABINO INDELICATO, enfim a todos que contribuíram para a concretização desse sonho de muitos e também da comunidade de São José dos Campos.
Infelizmente, mesmo com estes ofícios favoráveis, o observatório não foi construído na época.
Hoje temos disponível ao município os observatórios do INPE, da UNIVAP, do DCTA e o mais recente, inaugurado em 2016 do Centro de Tecnologia na Vila Industrial.
Meu amigo Carlos provavelmente amargou esta frustração por muito tempo, mas sua atuação foi importantíssima para nossa cidade, e em nome dela, meu muito obrigado Carlinhos!
Traga sua história para ser contada!
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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente