Quem dá mais pelo Formigão? (1971)

Um estádio recém concluído, com capacidade para 20 mil pessoas, está em leilão em São José dos Campos, São Paulo. Avaliado judicialmente em 4.558.937 cruzeiros, vale quase 8 milhões. Motivo da fofoca: a diretoria do Esporte Clube São José, que construiu o Estádio Martins Pereira, mais conhecido por “Formigão está devendo Cr$ 2.023.272,76 a bancos, fornecedores e à firma construtora, e não tem condições de saldar essa dívida. A luz do estádio já foi cortada por falta de pagamento. A Federação Paulista de Futebol proibiu a realização de qualquer jogo no “Formigão” até que o clube pague a quantia dos três mil cruzeiros que deve ao Corinthians, pelo empréstimo do jogador Candido. Os diretores que endossaram os títulos estão na iminência de perder suas propriedades particulares. José dos Santos, zelador do estádio com cinco filhos, foi despedido, pois não podem lhe pagar. Como Indenização, recebeu uma letra de mil cruzeiros. Mas José não tem para onde ir e, sem dinheiro, continua no estádio. Uma solução para o Formigão existiria se todos os sócios pagassem as mensalidades. O clube poderia arrecadar mensalmente 48 mil Cruzeiros. Acontece que as notícias publicadas pelo jornal da cidade sobre o leilão assustaram os associados. Resultado: no último mês houve uma arrecadação de menos de mil Cruzeiros.


ACABAR OU ARRISCAR

Fundado em 1933, o Esporte Clube São José, bastante querido pelo povo da cidade que lhe dá o nome, nunca teve dias de grandes glórias. Em 1964, entretanto, a decadência era muito grande e o time estava às portas da falência. Um antigo jogador do clube e sempre entusiasta de sus atividades, Mario Ottoboni, assumiu então a presidência. Em 1965 o time foi bicampeão pelo da 3a Divisão. São desse tempo craques como Sérgio. Leão e Teodoro, que ficaram famosos. Em 1967 a Federação Paulista baixou portaria, exigindo que todos os times de primeira divisão possuíssem um estádio com capacidade para abrigar, no mínimo, 10 mil pessoas. Pedia ainda arquibancadas de cimento armado, túneis, vestiários a fazia várias outras exigências. Entre as alternativas de encerrar as atividades ou partir para a construção da praça de esportes, o presidente optou pela segunda. Tudo deveria correr bem, mas falharam as previsões: a população não correspondeu a expectativa na hora de comprar os títulos. Inaugurado a 15 de março de 1971, o estádio, já no dia de sua inauguração teve um prejuízo de 100 mil cruzeiros. Do quadrangular de futebol que reuniu, no “Formigão”, O Corinthians, o Palmeiras, o Atlético e o Internacional, o clube ainda deve 25 mil cruzeiros do Corinthians.


PREFEITO LAVA AS MÃOS

Já se fala abertamente que o Formigão será demolido no seu lugar surgira um conjunto residencial. Também há quem acuse o prefeito da cidade, Sérgio Sobral de Oliveira, pela situação de insolvência do clube. O prefeito não gosta, porém, de receber a Imprensa para esclarecer o caso e, além do mais, acredita que o seu comunicado já esgotou o assunto. Eis um trecho do mesmo: “Cabe ao povo e à administração que o representa o direito de pedir contas aos que dilapidaram o patrimônio do Esporte Clube São José em transações escusas e espúrias. Não é, pois, nem prudente nem justo que a administração municipal venha a sacrificar qualquer parcela dos recursos públicos, aliás já empenhados, neste e no próximo exercício, em obras de infraestrutura de que a cidade carece, em empreendimentos que o joseense já desautorizou”. Com essas palavras a guerra foi declarada, mas ela já começara há mais tempo nascida de divergências políticas entre o presidente Ottoboni, que construiu o Formigão, e o prefeito. Quando candidato a deputado, nas últimas eleições Mario Ottoboni, entre outras coisas prometia exigir a cabeça do chefe do Executivo junto ao Governo Federal. Tendo perdido, o feitiço virou e o prefeito pressionou o clube para que afastasse Mario, se quisesse obter algumas vantagens da sua administração. Foi o que aconteceu, mas a prefeitura nunca ajudou.

A SAÍDA, ONDE ESTÁ A SAÍDA?

Depois de ter participado de várias campanhas como a do “Chapéu de Palha”, em que os diretores do clube iam, de casa em casa, tentando vender um título, o atual presidente, Argemiro Parizoto de Sousa, sem se desesperar, procura outras saídas. Falou-se em que as iriam irradiar apelos de Rivelino, Pelé, Gérson, Leivinha e outros jogadores para que o povo colaborasse com São José, mas tudo ficou por isso mesmo. Contas bancarias, entretanto vão ser abertas para a campanha.

“Abra o seu coração e ajude o Formigão”. Dos 2.750 títulos familiares vendidos, mais de mil foram cancelados. Dos títulos grande parte foram vendidos 179 e cancelados 32. Na categoria de sênior, dos 89 foram vendidos, 52 foram cancelados.
Até o último mês, já 30% dos que permaneciam com os títulos não pagavam. Aparentemente, a situação melhorou com a liminar de 90 dias que o juiz concedeu para resolve caso. A Portuguesa prontificou-se também a colaborar, mas o jogo realizado contra o time da casa em apenas dezoito milhões. o Corinthians também vai jogar, mas não há esperança de que a renda seja muito maior.
O drama portanto, continua esperando-se o que ele termine do antes do próprio “Formigão”.

Texto de Rodney Mello
Fotos de Antônio Lúcio
Revista O Cruzeiro, 1971

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