Uma voz em defesa da justiça
Fernando Biruel foi um jornalista, radialista e bacharel em Direito. Respeita todas as religiões e considera-se um fiel cristão pelos atos que praticava. Casado, tem cinco filhos e sua preocupação com a criança carente nunca ficou apenas no discurso eleitoral: sua casa já abrigou várias crianças que ali chegaram pelas mais diversas circunstâncias.
Descendente de imigrantes, Fernando Biruel viveu uma infância igual à todas as crianças pobres, só conseguindo retornar aos estudos aos 39 anos de idade, concluindo o Curso de Ciências Jurídicas da Fundação Valeparaibana de Ensino. Amargos momentos de sua vida, deram-lhe experiência que o habilita a exercer um cargo público, como já o provou em oportunidade anterior, como legítimo representante de uma comunidade decepcionada com políticos que buscam a eleição apenas como forma de satisfação de suas tolas vaidades ou de dar razão a interesse por vezes escusos.
Sempre leal aos seus princípios, Fernando Biruel teve coragem suficiente para defender os mais fracos nas lutas contra os poderosos. Isso chegou a lhe custar caro, em forma de ameaças e perseguições políticas. Conseguiram, uma vez, calar a sua voz. Essa mesma voz saiu do silêncio e, novamente, incomodar os desonestos e corruptos que continuaram formando e exibindo suas fortunas às custas do suor e do sangue de um povo cada vez mais descrente e desesperado, decepcionado com as instituições e com aqueles que representam.
Morre Fernando Biruel
Morreu ontem, aos 54 anos, o jornalista e ex-vereador Fernando Garcia Biruel. Ele sofreu uma parada cardíaca por volta das 15 horas. Biruel nasceu em São Paulo e morava em São José há mais de 30 anos.
Nos anos 70, ele começou a trabalhar na reportagem geral no ValeParaibano e depois cobriu a área policial dividindo o seu tempo entre a redação e a Rádio Clube. Foi nessa fase que Biruel tornou-se uma pessoa popular, com o programa “Patrulha da Cidade”, um dos mais ouvidos.
Entre 83 e 88, Biruel foi vereador e se destacou pela defesa das entidades assistenciais e famílias carentes. Não se reelegeu e voltou ao rádio. Como profissional de comunicação era uma pessoa espontânea a ponto de pedir demissão no ar durante a programação dizendo que tomava aquela atitude em respeito aos ouvintes. Ao se demitir, Biruel denunciou a direção da emissora por fazer restrição a seu trabalho.
Atualmente, ele curtia o entusiasmo de participar do projeto de reestruturação gráfica e editorial do “Diário do Vale”, um outro jornal de São José dos Campos. Ontem seria uma reunião decisiva sobre a proposta do jornal. O jornalista Boueri Neto, um dos diretores do “Diário”, lembrou que a reunião seria na quarta-feira. Mas por sugestão do próprio Biruel a reunião foi transferida para a tarde de ontem. “Hoje (ontem) estamos aqui velando seu corpo”, lamentou o colega. Na terça-feira de Carnaval, Biruel esteve no palanque durante os desfiles das escolas de samba. Ele chegou a dizer aos amigos que no Carnaval de 96 estaria novamente ali para fazer a cobertura para “Diário do Vale”.
O jornalista era casado com Elisabete Biruel. Tinha três filhos, duas filhas e um filho adotivo. Seu corpo foi velado na Câmara Municipal, onde compareceram profissionais de imprensa, empresários e políticos. As 17h30 ele foi sepultado no cemitério central.
Valeparaibano, 1995
Biruel, um destemido
O destino é uma demonstração da fragilidade humana. Prega-nos peças inesperadas. Eis que, num repente perdemos Fernando Garcia Biruel. Pertencente a uma antiga safra de antigos, idealistas e bons jornalistas e radialistas, ele nos deixa. A morte o levou na madrugada de primeiro para 2 de março, trazendo um misto de surpresa e consternação. Herdeiro natural dos que não fizeram faculdade de jornalismo (fez direito), mas propugnava como um leão pelas causas sociais. Erigiu sempre a bandeira do bem. No jornalismo esportivo e policial, onde militou muitos anos, neste ValeParaibano, nos áureos tempos do chumbo sua pena primava pela justiça. Graças aos conceitos sóbrios, Fernando Biruel era as vezes incompreendido.
Como todo cidadão que defende o lado justo da sociedade sofria até perseguições. Entendendo serem ossos do nosso oficio, ele jamais se deixou levar pelos que os criticavam, na vã tentativa de lhe calar a voz. Vereador sempre se caracterizou pela simplicidade de atitudes. Coisa rara hoje em dia, em relação aos políticos. Criador do “Patrulha da Cidade”, tinha no programa uma forma de poder transmitir não somente notícias más. O programa era uma síntese de noticiários tristes do cotidiano, bem como um meio pelo qual soube angariar donativos, como cadeiras de rodas, mantimentos e outros auxílios aos mais carentes de São Jose dos Campos e arredores. Perde o jornalismo, a imprensa que cobre o lúgubre e rotineiro rol das notas e acontecimentos policiais, um destemido. Jamais procurou esconder a realidade, na mídia onde atuou, no rádio ou nas publicações em que assinou suas matérias. Nós que também já militamos na imprensa, há mais de trinta e seis anos, fomos conhecê-lo em plena atividade, nos corredores dos distritos policiais.
Fernando Garcia Biruel era, antes de mais nada, um amigo na acepção da palavra. Discordamos sempre de sua atuação partidária ou política. Sem recriminações ou ressentimentos. Esperamos agora que a cidade de São Jose dos Campos reconheça em Biruel um baluarte da imprensa, não apenas como um comunicador que passou pela vida, porém, como alguém que sempre primou pelo comportamento como homem público, pela sobriedade e que seu nome passe para a história, como um artifício das boas causas e das lutas que, certamente imortalizarão os seus feitos através dos tempos…
Por Rui Laerte Gomide Santos e jornalista e advogado. Valeparaibano, 3 de março de 1995
Um abraço, Fernando, seu amigo…
Ainda pequeno, aos sábados, ouvia a Patrulha da Cidade. Nos tempos do Zelão e do Dr. João, quando a criminalidade corria solta em bairros hoje calmos.
Biruel foi o pioneiro do jornalismo policial em nossa região. Seu programa foi copiado em vários cantos. Nos idos de 70 teatralizava, com seus colaboradores, o que de mais interessante ocorria nas delegacias da região. Escutei muitas de suas histórias durante todo esse tempo. De quatro anos para cá, as ouvia ao vivo, aquelas histórias que nunca foram para o ar, inclusive aquela, que ele não cansava de contar, de quem, em certa feita, um de seus colaboradores, que não tinha papa na língua, fugiu do script, e ridicularizou uma vítima de assalto no ar. resultado, antes do término do programa, o indivíduo, um guarda-roupa, estava lá para tirar satisfações, e por ali permaneceria por dias, obrigando o colaborador ser retirado dia a dia pelos fundos da rádio para evitar um enfrentamento.
Foi Fernando Biruel, quem me deu as mãos para o rádio, e me fez acreditar no trabalho com o ouvinte participativo do rádio, que me fez sentir a interação, rádio ouvinte: e me deu forças para que editasse o jornal que hoje sou diretor.
Fiquei triste com o fim da Patrulha, quando pediu demissão e desculpas no ar, dizendo que não iria mais voltar no outro dia. Dizia estar cansado do rádio, sua maior mentira. Ele amava a imprensa.
Comprometeu-se com os problemas alheios, e quando ele não resolveu? Fui testemunhas de muitas campanhas, o acompanhei em distribuição de caridade e visitas a famílias carentes. Por este espírito, entrou na política, foi vereador, fez a sua parte. Foi também injustiçado na política, foi subjulgado na imprensa, mas recentemente, dava a volta por cima retornando como editor de cidade no novo Jornal Diário do Vale, onde que o conheceu o soube admirar.
No carnaval estive, lado a lado com Fernando, na Tribuna da Imprensa, na Rua 15 de Novembro, conversamos sobre jornal, sobre rádio e sobre seu sonho de editar um dia uma revista de variedades aos domingos. Passou a última escola, e juntos saímos pela 15 de Novembro sobre as cinzas do carnaval. Foi a última vez que estive com Fernando.
Um abraço Fernando, de seu amigo, o Vale ganhou muito com você e sempre sentirá a sua falta.
Jean Carlos de Paula, Jornal Vale News de 04 a 11 de março de 1995
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