Revista Balde Branco – Bi-Centenário

Reportagem publicada na Revista Balde Branco, Setembro de 1967 – N. 35 – Edição Especial, a respeito do Bi-Centenário de São José dos Campos.
Estes fragmentos da revista foram publicados por Walter José Friggi no grupo SJC Antigamente no dia 27 de julho de 2014.
Nesta oportunidade do aniversário de 247 anos da fundação de São José dos Campos, estou divulgando uma reportagem publicada na Revista Balde Branco, Setembro de 1967 – N. 35 – Edição Especial, dos meus arquivos, a respeito do Bi-Centenário.”

Isto é São José dos Campos

Texto escrito por Walter José Friggi, primeiro colocado Universitário no concurso de reportagens em São José dos Campos. Publicado na Revista Balde Branco, Setembro de 1967 – N. 35 – Edição Especial.

São José dos Campos e seus dois séculos de progresso

O processo de desenvolvimento do progresso de todas as cidades, estados ou países, nunca obedeceu uma linha ascencional contínua, mas se realizou sempre por etapas, assinaladas por períodos de estagnação, precedendo ou sucedendo as fases de maior impulso e de realizações.

É o que se pode constatar, também, na história do progresso de São José dos Campos, este ano completando gloriosamente o seu Bi-Centenário, seus dois séculos de avanço altaneiro na senda brilhante da evolução, rumo ao fanal de suas aspirações, sintetizadas no aperfeiçoamento completo.

(Foto)

Nem uma vista aérea consegue focalizar São José dos Campos de “corpo inteiro”.

Foto de Angelino de Jesus Rosa (Careca).

E assim, num breve histórico-estatístico de São José dos Campos, constata-se que o primeiro aldeamento da região foi estabelecido pelo Pe. José de Anchieta, sendo a vila criada com o nome de São José do Paraíba. O nome definitivo de São José dos Campos, que hoje ultrapassa fronteiras, decorreu da topografia local e foi adotado em 1871. A criação do município data entretanto de 1767, e a elevação a cidade de 1864.

São José dos Campos, localizada na zona fisiográfica do médio Paraíba, cortada pela Estrada de Ferro Central do Brasil e pela Rodovia Presidente Dutra, dista 84 Km da Capital Estadual, 320 Km do Rio de Janeiro, 91 km de Campos do Jordão, 93 Km do Sul de Minas Gerais e 96 Km do litoral, constituindo-se num importante entroncamento rodoviário. O município ocupa uma área de 1142 km2 e sua altitude média é de 650 metros do nível do mar. Conta com dois distritos, ou sejam: São Francisco Xavier e Eugênio de Mello, e sua estimativa populacional é de 120.000 habitantes.

Sede de comarca da 4a entrância, com duas Varas, tem sob sua jurisdição o município de Monteiro Lobato; conta, ainda, em sua organização judiciária, com a Junta de Conciliação e Julgamento.

São José dos Campos é, na atualidade, município dotado de todos os melhoramentos urbanos, com cerca de 480 logradouros e cerca de 25.000 prédios, além de hospitais, hotéis e pensões, restaurantes, cinemas, associações desportivas, recreativas e culturais.

A cidade de São José dos Campos conta com jornais diários e semanários; 3 radioemissoras (uma das quais exclusivamente universitária); 3 conservatórios musicais; observatórios astronômico particular, bibliotecas, além de efetiva assistência médico-sanitária-hospitalar.

Possui o município, 17 estabelecimentos de créditos; 1271 propriedades agrícolas; 1032 estabelecimentos comerciais e 150 industriais.

O valor da receita municipal, estadual e federal deste município, prevista para 1967, de aproximadamente NCr$ 30 milhões, chega a superar a de alguns Estados da Federação.

São José dos Campos é, outrossim, um grande centro de ensino, possuindo 12 faculdades e cursos de nível superior, dentre eles: Ciências Econômicas e Administrativas, Direito, Farmácia e Odontologia, Filosofia, Seminário Superior e o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde se realizam pesquisas de largo alcance, sendo considerado como o segundo Instituto Tecnológico do Mundo; o ensino médio e técnico é ministrado em 12 escolas, e o ensino primário é dotado de 110 unidades escolares.

O brasão

Quando à testa da Prefeitura local, o Sr. Cel. João Alves da Silva Cursino, a Câmara resolveu adotar um brasão de armas, sendo o então chefe do executivo municipal autorizado, em sessão de 16.8.1926, a tomar as providências necessárias.

O escudo oficial, do município foi elaborado pelo Sr. Dr. Afonso de Taunay (especialista em assuntos heráldicos), Diretor do Museu do Estado naquela época, que teve o seu plano aprovado em 18.9.1926, sendo então, incumbido do respectivo desenho, o pinto Sr. J. Wasth Rodrigues, que realizou magistral trabalho.

Expediu-se então, a Lei no. 180 de 23.9.1926 para oficializar o aludido brasão, cuja descrição é a seguinte:

_ Escudo redondo português, cortado e partido, encimado pela coroa mural, a saber:

1º Quartel:

a) Em campo de ouro, quatro cabeças de sua cor, de índios guayanazes “afrontados” e acantonados e brasão do venerável Joseph de Anchieta “post in abismo” recordam a fundação da Aldeia de São José, no século XVI.

b) Em campo verde, um rio de prata um lírio e um bastão de prata, constituem as armas “falantes”, do município: São José da Paraíba e São José os Campos e o bastão florido recorda a piedosa lenda cristã relativa aos esposaes de São José e Nossa Senhora.

2º Quartel:

Em campo vermelho, uma “panóplia bandeirante”: arcabuz, espada, machado, bandeira, recorda a entrada dos desbravadores nas terras de São José, no século XVII.

Suportes:

Dois soldados do terço miliciano, criado para o Norte de São Paulo, pelo Morgado de Matheus.

Coroa Mural:

Sobre a porta principal do brasão do Morgado de Matheus, fundador da vila em 1767.

Listão:

Em fundo de prata, letras de goles, com a divisa: “Aura Terraque Generosa”.

_ “Generosos são a minha terra e os meus ares”.

O ponto de destaque do município de São José dos Campos, indiscutivelmente a “mola-mestra” e o responsável pelo seu impressionante desenvolvimento, é o seu parque industrial. Conta ele, com uma centena e meia de grandes e importantes estabelecimentos, com mão de obra sendo produzida por aproximadamente 20.000 operários, distribuídos nas Usinas de produtos automobilísticos, aviões, metalúrgica pesada, têxteis, material elétrico, químicos e farmacêuticos, cerâmica, telecomunicações, calçados e outros.

A expansão Industrial

São José dos Campos, passou por duas fases absolutamente distintas no setor da expansão e evolução industrial: antes e depois de 1950.

Os primeiros empreendimentos levados a efeito no município, relacionavam-se com a fabricação de minerais não metálicos, cerâmicas, e em seguida as indústrias têxteis, que via de regra constituem-se nas etapas iniciais de todo o processo de desenvolvimento industrial. Tais produções, destinavam-se exclusivamente ao mercado interno.

As principais causas que caracterizaram essa primeira fase, foram sem dúvida:

a) Facilidade para instalação:

A Prefeitura Municipal, consoante lei baixada neste sentido, concedia isenções tributárias para a instalação de indústrias;

b) Custo dos terrenos:

Na aquisição de áreas industriais, os interessados encontravam grandes vantagens, em face do baixo custo das mesmas;

c) Matérias Primas e Mão de Obra:

A Matéria Prima utilizada era extraída do próprio município.

A mão de obra, em razão do pioneirismo dessas indústrias, era conseguida também com extraordinária facilidade.

d) Localização:

A proximidade do município com a Capital do Estado, constituía-se em fator preponderante, já que permitia e facilitava a conquista de mercados consumidores para a colocação de sua produção industrial.

e) Meios de transporte:

A existência da Estrada de Ferro Central do Brasil e da antiga Rodovia Rio – São Paulo, facilitavam sobremaneira o escoamento e os meios para a ampliação da procura de seus produtos;

f) Rio Paraíba:

A existência do grande rio, era outro fator proeminente para a fixação de indústrias nesta região, e face às enormes áreas existentes, especialmente em São José dos Campos.

Esta foi a fase inicial, que é sempre a mais difícil, já que os tropeços a vencer são inúmeros, a começar pela falta de experiência.

A segunda etapa da nossa evolução industrial pode ser assinalada após o ano de 1950 e vem se estendendo até hoje, quando se verifica, ainda, a enorme expansão dos grupos industriais aqui localizados, todos empenhados na luta pelos grandes investimentos.

Nesta fase principal, tiveram oportunidade de instalar-se em São José dos Campos, as indústrias de telecomunicações, metalúrgicas, químico-farmacêuticas, de automóveis, aviões, artigos domésticos, de calçados, e outras indústrias têxteis.

Como causas fundamentais que caracterizaram a procura de São José dos Campos para instalação e formação do extraordinário parque industrial que é hoje este município, podem-se destacar:

a) O advento da Rodovia Pres. Dutra:

A construção dessa importante rodovia, trouxe enormes possibilidades para São José dos Campos e toda a vasta região valeparaibana, dado a enorme facilidade de acesso as duas maiores cidades do país, Rio de Janeiro e São Paulo, daí permitindo para as indústrias aqui instaladas, o intercâmbio com outros estados e até mesmo, facilitando a exportação de seus produtos, bem como, a importação de suas respectivas e principais matérias primas;

b) O Centro Técnico de Aeronáutica:

A instalação do CTA trouxe à São José dos Campos, não só oportunidade para o seu crescimento territorial, como também cooperou de modo todo especial para a repercussão do nome de nosso município além fronteiras, possibilitando o conhecimento de nossas áreas.

Nos dias atuais, o CTA se apresenta como verdadeiro orgulho do povo joseense, paulista e brasileiro.

c) Áreas industriais:

A existência de magníficas aéreas planas, às margens da Rodovia Dutra, facilitou enormemente a instalação de novas indústrias;

d) Mão de Obra mais razoável:

Como é sabido, o salário mínimo deste município foi até 1961, sempre menor que o de São Paulo, tendo isto constituído, sem dúvida, num dos grandes atrativos para os industriais;

e) Sub-indústrias:

Com a expansão e evolução do parque industrial joseense, necessário tornou-se a criação de outras pequenas, mas, igualmente importantes indústrias, para atendimento da demanda do complexo industrial local;

f) Crescimento urbano da cidade:

O desenvolvimento do município ensejou, outrossim, a instalação de pequenas indústrias, e bem como possibilitou o aumento da população joseense;

g) Impostos e Taxas:

A isenção dos impostos e taxas pela Prefeitura, ainda nesta fase influiu obviamente para a instalação de novas indústrias;

h) Rio Paraíba:

Assim como, a presença do caudaloso rio, continuou, continua e continuará sempre propiciando a vida de novas fábricas para São José dos Campos.

Outras previsões e programações existentes para instalação de grandes indústrias neste município, incrementando e aproveitando a mentalidade de crescimento de nosso parque industrial, nos faz antever uma nova e decisiva fase para imposição da indústria joseense, o que possibilitará a marcha ascencional do progresso de São José dos Campos na linha do seu objetivo de evolução.

Em consequência do progresso verificado, passa São José dos Campos a desempenhar papel de primeira grandeza na economia estadual e quiçá federal. Deixa assim, São José dos Campos, de ser uma cidade meramente agrícola, para transformar-se em importante centro industrial do Brasil, mercê da nova e importante etapa de industrialização, que já se caracteriza pela fabricação de bens de produção, na qual acha-se empenhada.

O crescimento do parque industrial joseense, o desenvolvimento e o progresso alcançado pelo município, são extraordinários, porém, plenamente justificados pelos empreendimentos criados, que originaram igualmente o alargamento de nosso mercado e a elevação do nível de vida de amplas camadas da população desta terra.

Parecer

O que se pode verificar é que o ritmo acelerado do desenvolvimento industrial de São José dos Campos adquiriu um processo muito rápido, originando o progresso de nossa terra, aproximando-a e igualando-a (por que não?) às mais adiantadas do interior paulista.

O progresso de São José dos Campos, foi deveras, uma luta titânica a vencer o descrédito daqueles que não acreditavam no arrojo, fé e denodo do realizador povo joseense. Nosso progresso e desenvolvimento é uma realidade inconteste.

Aqui é o homem que se agita

A multiplicação das unidades fabris, comerciais, escolares e de outros setores, resultaram em profunda e radical modificação do “modus vivendi” da tradicional população de São José dos Campos.

São José dos Campos repleta de riquezas materiais e morais, representa, no instante de seu Bi-Centenário, a soma de trabalhos e de sacrifícios dos nossos antepassados, a alegria dos atuais e o sonho dos vindouros. A cidade é o nosso progresso representado pelo comércio, pela indústria, pelas ciências, artes e letras. Ela é o patrimônio comum dos joseenses e será o Bem Comum de todos, pelo desenvolvimento harmônico de todas as suas potencialidades e atividades, pelo desabrochar e despertar de novos rumos.

Nela tudo é grande e fecundo.

Sua população, sensível, generosa, nobre, hospitaleira, proba, trabalhadora, mostra inteligência viva e aguda, raro senso de realidade, engenho curioso e hábil.

Porém, não devemos parar e não estacionaremos aqui. A contemplação do belo, daquilo que já foi feito, e do que constitui o nosso progresso, deve servir de estímulo, para que pensemos no mais brilhante futuro desta nossa querida terra.

E assim, dado o magnífico surto de progresso deste município, que se constitui hoje, sem favor algum, e por uma série de fatores, num dos mais adiantados centros industriais, comerciais e de ensino do país, é que podemos nos ufanar do título que conquistamos, por DIREITO e JUSTIÇA, de:

“A Capital do Vale do Paraíba”

Victor Hugo, o fabuloso poeta Frances escreveu numa das magníficas estrofes que compreendem o maravilhoso escrínio de gemas preciosas que é “Rayons et les Ombres”:

_”Jamais excepté Dieu, rien n´arrete et ne dompte le peuple qui grandit ou I´ocean qui monte”.

_ “Nada, exceto Deus, pode dominar o povo que cresce ou o oceano que sobe”.

Eis porque, apesar de todos embaraços que de tempos a esta parte têm surgido na vida nacional, refletindo-se nos Estados e, pois, nos municípios, São José dos Campos “avança altaneiro na senda brilhante da evolução, rumo ao fanal de suas aspirações, sintetizadas no aperfeiçoamento completo”.

Aqui, é realmente o homem que se agita na luta gloriosa do progresso, desenvolvimento e civilização, merecendo que DEUS o conduza.

Os novos edifícios refletem o desenvolvimento da cidade. Edifico Salim Simão.

Desfile do dia 30 de Julho de 1967.

Mesmo durante a noite, o centro comercial de São José dos Campos está cheio de automóveis nas ruas e gente pelas calçadas.

Nos dias atuais, o Centro de Tecnologia da Aeronáutica, apresenta-se como verdadeiro orgulho do povo brasileiro.

As vitrinas atraem e fazem o comércio ativo.

A arte sempre presente.

O operário joseense está sendo integrado na riqueza do país.

As construções sobem em ritmo acelerado em toda a cidade.

Walter José Friggi foi o primeiro colocado entre os universitários no concurso de reportagens em São José dos Campos.

O garbo, o espírito e a elegância disseram presente no desfile do dia 30 de julho de 1967, que contou com a participação de estudantes de São José dos Campos e cidades vizinhas.

A juventude da época.

Nem uma vista aérea consegue focalizar São José dos Campos de “corpo inteiro” Foto de Angelino de Jesus Rosa (Careca).

Desfile do dia 30 de Julho de 1967.

A graça e a beleza da futura mulher joseense impressionaram o público presente.

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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente


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