Ruy Rodrigues Doria

Não está nas exíguas possibilidades destas modestas colunas, traçar todos os comentários que sugere a personalidade multiforme do Dr. Ruy Rodrigues Doria. Luminar da ciência, legitima gloria da Medicina Indígena, o notável facultativo cujo renome já atravessou as fronteiras da Pátria, reúne em sua pessoa tão variados aspectos, que é obra para um Ludwig ou Zweig descrever em todas as suas facetas, o que tem sido a vida sobremodo ativa e acima de tudo humanitária do Dr. Ruy Doria. Entre nós reside ele desde 1927, mas de tal forma está arraigado em São José dos Campos. que podemos considera-lo um dos mais autênticos joseenses. Tal é a soma de benefícios que esta cidade lhe deve, que não seriamos injustos se o colocássemos entre os primeiros benfeitores desta terra hospitaleira e generosa.

Aqui, especializou-se ele no tratamento da tuberculose, aprofundando seus estudos, rasgando novos horizontes para a eura do terrível mal, executando em seu Sanatório as mais ousadas intervenções cirúrgicas, e com tão apreciáveis resultados, que hoje o seu nome figura entre o dos mais reputados tisiólogos americanos.

Numerosos trabalhos apresentados a classe medica do país, excepcionais curas conseguidas em casos que seus pares consideravam perdidos, granjearam-lhe a estima e o respeito de seus colegas. Por isso foi o Dr. Ruy Doria indicado para representar o Brasil num Congresso de tisiologia realizado em Lisboa em fins do ano passado. De lá regressou com a experiência de uma longa viagem através dos mais adiantados centros científicos do mundo, adquirindo novos e preciosos meios de combate a peste branca, reafirmando assim a confiança que lhe depositam centenas e centenas de enfermos, que aqui o aguardavam, saudosos e cheios de esperanças.


No lugar do sanatório, hoje encontra-se o edifício Rui Dória.
Para saber mais sobre o sanatório acesse abaixo:
https://www.sjcantigamente.com.br/sanatorio-rui-doria/


Entre as qualidades que distinguem o Dr. Doria, modéstia, inteligência, operosidade, queremos destacar uma, que bastaria para torna-lo querido de quantos o conheçam a bondade. No seu consultório, sempre repleto, são atendidos um sem número de doentes. O Dr. Doria, sorridente e bem humorado, consolando uns, animando outros, receitando, auscultando, examinando através da radioscopia, desdobrando-se numa prodigiosa atividade, não deixa ninguém sem a devida atenção, mesmo que isso o obrigue, o que não é raro, a permanecer em seu posto até o crepúsculo vespertino, alimentando-se apenas uma vez por dia; indo ainda prolongar o seu trabalho até altas horas da noite, quando, de bisturi em punho, luta desassombradamente contra a insidiosa moléstia, arrebatando-lhe as vítimas, como uma figura legendaria, roubada de um quadro de Rembrandt! E, no entanto, dessa numerosa clientela, somente uma parte não é gratuita. Mas, como dissemos de início, um livro, um grosso volume seria necessário para retratar com fidelidade o consagrado clinico, verdadeiro sacerdote da ciência – São Francisco de Assis dos Tuberculosos.

Limitamos ao que ficou dito acima, encerrando estas linhas com uma agradável noticia: dia 24 do corrente o Dr. Doria faz anos. Será, como de habito, feriado forçado em São José dos Campos, porque toda a cidade comemora com jubilo essa data., e o único pretexto que a excessiva modéstia do Dr. Doria admite, para que todos os joseenses corram a manifestar-lhe sua admiração, seu respeito e sua gratidão!

Aqui fica, antecipadamente, a modesta homenagem d’A Folha Esportiva”, tanto mais modesta se considerarmos que se destina a figura grandiosa desse monumento de bondade – Dr. Doria.

Jornal Folha Esportiva, 1938

Abaixo, a residência Dr. Ruy Dória, esquina da Praça Cônego Lima com Rua Cel. José Monteiro, depois Banco Brasileiro de Desconto S.A., atual Bradesco.


Em 22 de agosto de 1928, por ocasião de sua data natalícia, a sociedade joseense promoveu estrondosa manifestação de apreço em agradecimento aos benefícios prestados pelo conceituado Dr. Ruy Dória. Em 24 de novembro de 1928, O Democrático enalteceu a homenagem publicando a foto do ilustre médico em primeira página do jornal.


Escola Estadual de Primeiro Grau Dr. Rui Rodrigues Dória” na década de 1970.


Saiu no jornal A NOITE/RJ, de 3/1/1944 – No prédio do antigo fórum, na Praça Afonso Pena, foi feita a cerimônia de posse da nova direção do Tiro de Guerra 545 de São José dos Campos para o período de 1944/45. Nele há nomes conhecidos entre nós: Pedro Mascarenhas (prefeito sanitário), Sílvio Bindão (que mais tarde seria diácono), Tufi Simão, Ruy Dória, Jorge Zarur. O padre João Guimarães celebrou no evento.


O texto abaixo foi retirado de duas páginas onde não foram citadas as fontes.

POLÍTICA

O Doutor Dória foi o chefe democrático, o revolucionário n. 1, como dizia em 1930. Veio a ser vereador, novamente, antes de 37, quando na Câmara havia cinco governistas e dois perrepistas; de um lado Cerdeira que foi presidente da edilidade, Joaquim Bráulio de Melo, que também o foi, Donato Mascarenhas Filho, Mário Martins Pereira e Dória; do outro, Nélson d’Avila e Ivan de Souza Lopes. Com a morte deste, foi convocado o suplente Alípio da Silva Viana. Lutavam as facções à velha moda, ataques pessoais, volantes na rua 15, discursos em praça pública, secção livre dos jornais, e, após março de 37, funcionou o microfone da P.L.1.

Veio a ditadura, quando Dória, desiludido de tudo, havia embarcado para a Europa, onde, dizia, viu o projeto da carta fascista, antes de promulgada aqui, em mãos de diplomatas alemães. Voltou Dória às vésperas de seu aniversário, que era a 24 de novembro. O governo totalitário havia sido instalado a 10 do mesmo mês.

Durante os sete anos sem política, Dória sofreu, visitou países da América Latina, inconformado. E tão logo restabelecida a democracia, saiu a campo, leão democrático, disposto a destruir a cidadela getulista.

Participou da convenção da UDN e organizou seu diretório local, ao lado do PR, de Bento Barbosa de Queirós, opondo-se ao PSD de Pedro Mascarenhas (genro do Dr. Nélson) e ao PTB de Jorge Vieira da Silva, Antônio Nunes de Paula e, depois, Benedito Matarazzo.
Estavam definidos os campos de luta. Vinha, de novo, a política, agitar São José dos Campos.

ELEIÇÕES

As eleições de 1946 constituíram um tremendo choque para quantos, no Brasil, encaravam a política em termos liberais-democráticos. O mundo evoluíra, uma nova concepção surgia, as massas despertavam.

Os embates deixavam de ser no estrito terreno pessoal, já não se dava tanta importância aos aspectos puramente éticos das disputas. A pregação democrática, como era entendida antes de 30, antes de 37, já não encontrava ressonância. O povo — analfabeto e pouco esclarecido — acreditava no poder carismático do homem que foi selo, foi moeda, foi cédula do tesouro, foi cartaz na rua, foi eco nas ondas hertzianas, num condicionamento popular feito em bases científicas… A ingenuidade dos que o derrubaram, sem lhe retirar os direitos políticos, que ele por muitas vezes subtraiu aos demais, teve seus efeitos na esmagadora derrota das urnas.

Dória acreditava, contudo, em seu prestigio pessoal. Foi a nova convenção e retornou candidato a deputado estadual.

A cidade, porém, não era a mesma. Não éramos, mais, uma população de doentes, de permeio com os nativos, divididos em zonas de influências pessoais.

E novos resultados negativos surdiam das urnas.

São José, cidade que se industrializava, remetia às secções eleitorais os votos maciços dos operários, dos que amavam Getúlio e detestavam “políticos…”

Os mais sabidos simplesmente abandonaram seus partidos, seguiram a direção dos ventos, tornaram-se líderes lá onde havia tanta falta deles. Dória continuou onde estava, recusou vantagens, morreu imerso nos seus sonhos de democracia e de liberdade.

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