Samba Session na Delegacia

Em 1965, mudou-se para a vizinhança da Organização Radiojornal (Rádio Clube e jornal “O Valeparaibano”), na Avenida Dr. Mário Galvão, o carioca José Fernando e sua família, ele novo baterista do Conjunto de Ritmos “Biriba Boys”. Começou a frequentar a redação e nos tornamos amigos. Como já conhecia os saxofonistas Wilson Benedetti (que dava umas canjas em nossas serenatas) e o paraguaio William “Palito” Miranda, logo surgiu a ideia de reunir o pessoal para um encontro de bossa nova e jazz.
A Cantina dos espanhóis Antônio e Concheta, na rua Rubião Júnior, era frequentada por alguns aficcionados do jazz e da bossa nova, como os médicos Frediano Bianchi e João Reis Quaglia. Ali seria ideal para o encontro porque poderíamos unir o útil ao agradável, a música com os comes-e-bebes.

Na noite marcada comparecemos todos. A casa ficou repleta de aficcionados do jazz e da bossa nova. E o som ia varando a madrugada. De repente, algumas viaturas policiais pararam na porta, inclusive um camburão. Os policiais descem, mandam parar o som e pedem que todos entrem no camburão e nas viaturas para serem levados para a Delegacia de Polícia, na Praça Afonso Pena.

Houve um processo de negociação e todos acabaram indo para a Delegacia de Polícia nos carros particulares. Lá chegando, o delegado Dr. Maurício Henrique Guimarães Pereira explicou que recebeu uma denúncia e todos estavam presos por perturbação do sossego público, e iriam permanecer detidos até ele dispensar. Fiquei um pouco preocupado porque foi justamente o delegado Maurício Henrique que se deslocou de São José para São Paulo para me interrogar, em 1964, no DOPS. Porém, foi um interrogatório civilizado.

Mas ficamos sentados e deitados nos bancos do corredor do prédio da Delegacia de Polícia até que, já quase ao raiar do dia, o Delegado de Polícia viesse e nos dispensasse. Logo ficamos sabendo que a denúncia partira do Prefeito José Marcondes Pereira, que morava ao lado da Cantina, e certamente não sabia que muitos dos perturbadores do seu sossego eram seus correligionários políticos. E o Dr. Maurício Henrique, seu notório desafeto político, logo adotou as providências cabíveis sabendo que o lugar era bem frequentado.
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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