Sombra do ônibus azul sobre a cidade

Gravou o imaginário do cidadão joseense o fato de um ônibus azul da Aeronáutica ter estacionado em frente da porta do prédio da Prefeitura Municipal, na rua Sebastião Humel (onde hoje é a Biblioteca Pública Municipal), em meados de 1969, e ali ter permanecido a espera de um sem número de pessoas que foram sendo levadas para bordo. Vereadores, funcionários públicos, comerciantes, profissionais liberais, pessoas de renome e de liderança na cidade que, invariavelmente, entravam e se escondiam dentro do ônibus para não serem expostas aos olhares curiosos dos que passavam e logo iam parando para saber o que estava acontecendo.

No gabinete do prefeito Elmano Ferreira Veloso, o Major Marcial da sub-CGI (Comissão Geral de Investigações), travava um diálogo com o diretor do DEMEFE (Departamento Municipal de Educação Física e Esporte), Luiz Carlos de Barros Ramos, que exigia um tratamento digno a quem não estava sob suspeita e não merecia a cena daquele ônibus parado na frente do prédio da Prefeitura Municipal. Ele acorreu ao gabinete do prefeito tão logo soube do que estava acontecendo, enquanto outros preferiram não aparecer, ou por estarem na mira da sub-CGI ou para não se comprometer.

Completada a missão do ônibus azul da Aeronáutica, o advogado Luiz Carlos de Barros Ramos exigiu que o Major Marcial descesse junto com o prefeito Elmano Ferreira Veloso e o cumprimentasse na calçada, na frente de todos os presentes, e se retirasse em seguida. E foi assim que ocorreu. Mas qual era a missão deste ônibus azul da Aeronáutica? Aquelas pessoas chamadas e levadas para interrogatório em Cumbica poderiam ter sido chamadas e levadas sem todo aquele aparato!

Nem mesmo eu, que já militava na imprensa como redator do jornal “O Valeparaibano”, tirei a conclusão que hoje tenho clara e objetiva daquele episódio vergonhoso para as pessoas e a cidade de São José. A cidade já tinha perdido a sua autonomia política na letra fria da lei. A Lei Orgânica do Estado de São Paulo, que ditava a organização política dos municípios (hoje regidos por Lei Orgânica Municipal, graças à conquista da Constituição de 1988), ratificou, em 1969, o dispositivo constitucional de 1967, de que os municípios declarados como estâncias hidrominerais naturais teriam os seus prefeitos nomeados pelo governador do Estado e não mais por eleições diretas. E São José era considerada assim por lei estadual.

A missão do ônibus azul da Aeronáutica era a de desmoralizar as autoridades e lideranças civis, criando condições para a nomeação do prefeito de São José. Como o nomear um prefeito para a cidade interrompendo o mandato popular de um prefeito eleito pelo partido do governo, a Arena, e que promovia uma administração admirável aos olhos de todos? Poderia haver até uma reação popular! Veloso era o semeador de escolas, de indústrias, abria os horizontes artístico-culturais com o Conselho Municipal de Cultura e da prática esportiva com o Departamento Municipal de Educação Física e Esporte (DEMEFE), promovia ampla campanha municipal de alfabetização. Somente com a desmoralização da classe política de então é que poderia ser feito o que foi feito: nomear um prefeito para a cidade cortando um ano de mandato do prefeito eleito. E assim ocorreu, em fevereiro de 1970, com a nomeação do prefeito Sérgio Sobral de Oliveira, que a cidade conhecia como Coronel do CTA e diretor administrativo do INPE, encontrando-se até aquela data como diretor administrativo da Fundação Padre Anchieta TV Cultura de São Paulo.
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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