Tromba D’água em Caraguatatuba – Março – 1967

Uma sequência fotográfica (publicada originalmente na página do São José dos Campos Antigamente no Facebook) de grande importância com imagens nunca antes vistas da maior tragédia já ocorrida em nossa região, popularmente chamada Tromba D’água, ocorrida em Caraguatatuba em Março de 1967. Com o cinquentenário do ocorrido (2017), disponibilizo este singular registro realizado por um morador de São José dos Campos, o engenheiro aeronáutico e artista de origem alemã Hans Hermann Swoboda.
A Hecatombe, conhecida internacionalmente, ocorreu no dia 18 de março de 1967, a maior parte dos deslizamentos ocorreram no começo da tarde, e segundo os jornais da época, chovia ininterruptamente desde o dia 16 de março, com maior intensidade no período noturno. Na manhã do dia 18, começaram os deslizamentos. Por volta das 15:30 horas, toda a serra desaba, e a cidade ficara isolada.

A Rodovia dos Tamoios ficou destruída, vários carros ficaram presos no trecho de serra. O acesso para Ubatuba e São Sebastião, cidades vizinhas, ficou interditado, a ajuda chegava apenas por ar e por mar. O Rio Santo Antônio aumentou suas margens de 40m para 200m. A lama descia junto com o Rio. De acordo com o posto da Fazenda dos Ingleses, o índice pluviométrico registrou 851,0 mm, sendo 420,0mm somente no dia 18, não acusando índice maior devido a saturação do pluviômetro.

A contabilização oficial acusa 436 mortes, mas moradores afirmam que o número chega ao dobro ou triplo do oficial. Muitos corpos foram levados pelo mar, ou nunca chegaram a ser encontrados, até dados como desaparecidos, pois quem os conhecia também morreu. No dia 18, às 13:00 horas, veio a avalanche total de pedras árvores e lama dos morros Cruzeiro, Jaraguá, Jaraguazinho, próximos a cidade. Às 16:30 horas, outra frente abria-se no Vale do rio Santo Antonio e este alargou-se de 10-20m para 60-80m. No bairro Rio do Ouro, gigantescas barreiras começaram a cair pela manhã, formando uma enorme represa que estourou algumas horas mais tarde, desaparecendo com o bairro e provocando o deslocamento da ponte principal do rio Santo Antonio. Caso não tivesse acontecido esse deslocamento, a cidade inteira teria sido inundada e coberta pelas águas.

A estrada da serra, em sua maior parte, foi destruída, não sendo possível reconhecer seu antigo traçado em muitos trechos, onde se formaram precipícios de mais de 100 m de profundidade. A Estrada de Ubatuba sofreu quedas de barreiras nos trechos de Maranduba, Jetuba, Sumaré, Prainha e Martim de Sá, recobrindo seu leito em 0,80 m de lama. Fonte: Wikipedia Brasil “A lama vermelha, amolecida por três dias de chuva forte, deslizou sobre a cidade, encobriu casas ao pé da serra, por cima vieram árvores inteiras, derrubando paredes e se amontoando na estrada. Dez minutos depois, Caraguatatuba quase não existia mais.” Assim o jornalista Gabriel Manzano abriu reportagem publicada no Jornal da Tarde em 20 de março de 1967.

A tragédia em Caraguatatuba deixou 436 mortos e desesperou os moradores. Todas as 240 lojas da cidade fecharam as portas, num luto espontâneo. A luz acabou. Comida e gasolina foram racionadas. O Rio Santo Antônio subiu e o aguaceiro invadiu a Santa Casa. O necrotério municipal não parava de receber corpos e o mar também trazia cadáveres. Severino – coveiro identificado pelos jornais da época apenas pelo primeiro nome e que nunca havia enterrado mais de três pessoas em um dia, sepultou cem de uma vez – 15 em vala comum. Mais da metade sem nome.

A solidariedade não demorou a chegar. Donativos de São Paulo chegavam em três aviões e de navio, via Porto de Santos. Caraguatatuba não tinha roupa. Caraguatatuba tinha fome. No dia seguinte à tragédia, ali estavam remédios, 20 sacas de feijão, 450 latas de leite em pó, 300 cestas básicas, 100 latas de biscoito e vários outros mantimentos. Rio A catástrofe de Caraguatatuba aconteceu dois meses depois de uma outra tragédia carioca: em 23 e 24 de janeiro daquele mesmo 1967, fortes chuvas no Rio deixaram 785 mortos. A capital carioca virou mar. Um mar sujo e impiedoso.
Wikipedia
Fonte: O Estado de São Paulo

Depoimentos

“Perdemos amigos nesta tragédia… Eu era pequena e conhecia a família, era uma moça bonita chamada Marli, ela, marido, filhos e mãe, foram todos soterrados e jamais encontrados uma família inteira.” Por Silvia Maria Yokoji

“Meu avô Venâncio Coelho trabalhava na D.E.R e ajudou muita gente nesta catástrofe! Ele dizia que o que se via era somente tristeza e que há máquinas e diversas coisas soterradas até hoje! Ele dizia que essa serra da Tamoios não é segura até hoje! Também dizia que essa serra está podre e temia uma nova catástrofe. Durante a reconstrução da rodovia morou durante um bom tempo na casa que se avistava no mirante da serra da Tamoios (hoje essa casa já foi demolida há uns 5 anos). Meu pai conta que meu avô ficava nessa casa 15 dias e depois retornava para casa para passar o fim de semana com a família.” Por Fernando Filho.

“Saí de Caraguatatuba um dia antes da tragédia, no dia seguinte estava eu no Bairro Alto, quando as notícias chegavam pelo Rádio! Foi muito triste. Naquele momento as águas atingia a minha residência, tudo ficou coberto pelas lamas da catástrofe!” Por Vicente Rochalo.

“Eu morava em Taubaté na época, mas me lembro bem deste fato.
Hoje moro em Caraguatatuba desde 1976. Tenho uma amiga aqui que viu seu filho, um bebezinho na época, ser levado pelas águas sem poder fazer nada. Ouço muitas histórias tristes por aqui com respeito a essa catástrofe.” Por Maria A. Antunes.

“Meu tio estava na cidade quando aconteceu essa tragédia, ele conta que a lama descia levando casas, animais e pessoas, muitas delas gritando por socorro e eles não podiam fazer nada, por sorte a casa aonde eles estavam na prainha o lamaçal não chegou eles ficaram isolados por um bom tempo porque não tinha telefone e nem estrada para passar.” Por Leni Ferreira.

“Eu sou flagelado com muito orgulho, sou caiçara que sobreviveu a esta tromba da água em 18-03-1967, nossa família Passos ajudou muitos irmãos na época com a reconstrução de Caraguatatuba. Orgulho de ser Caiçara.” Por João Luiz Passos.





Este vídeo com imagens e depoimentos de moradores informa um pouco mais sobre o ocorrido:

“Eu tinha cinco anos, morava numa chácara no Tinga, mesmo sendo pequena ainda me lembro de corpos, árvores e o cheiro de lama. Lembro bem do sofrimento do meu pai socorrendo a família, minha mãe deu a luz naquela noite, e meu pai salvou a todos e ajudou a muitos nos dias que se seguiram, viveu até os oitenta anos. Ele tinha muitas histórias. Em memória de Benedito Simões Maia,”Procópio”, como era conhecido.” Por Rosangela Maia

“Eu tinha 8 anos, morava na Martin de Sá, perto do recanto Sandra. Meu pai Darcy Gonzaga, hoje falecido, ajudou muita gente, salvando com canoa ou mesmo carregando no colo, foi muito triste, na minha casa graças a Deus não foi água porque é alto, apesar de morar perto do rio Guaxinduva. Sem comida, sem água, sem luz, perdemos muitos amigos e parentes, naquela época a cidade era pequena, todo mundo se conhecia. Tenho fé em Deus que não passaremos mais por isso, pois foi muito triste.” Por Anilce Gonzaga.

“Eu estava lá… Ficamos sem nada, quando conseguimos voltar para São José foi num caminhão da cooperativa de laticínios, meu pai trabalhava lá, e pela influência dele conseguimos sair de Caraguá, apenas os perecíveis passavam na serra, a água tinha mais de um metro dentro de casa, meu pai nos colocava em cima das beliches, a prefeitura fornecia água, fubá e leite em pó, era fim de férias, quando cheguei em São José, o ano letivo já havia começado, perdi um pouco de aula, meu pai deixou o carro, um Sinca, por lá…” Por Suzi Giovanelli.

“Quando fui à Caraguatatuba pela primeira vez em 1974 o mar ainda devolvia destroços desta tragédia, esse fenômeno perdurou por vários anos, meu pai tinha casa na praia das palmeiras e sempre que entrávamos no mar a gente sentia troncos de madeira rolando passando pelos nossos pés e a praia amanhecia todos os dias cheia de resíduos.”
Por Rogério Alves.

“Minha amiga já falecida estava na época na cidade ela contava que foi salva apenas por um tronco de bananeira, e socorrido por um senhor.” Por Maria Aparecida L. Silva.

“Eu morava no Jaraguazinho no sítio do Carmo Peixoto, perdemos tudo e quase a vida, nossa casa caiu e foi levada pela enchente, ficamos num morro durante a chuva, outro dia a tarde é que fomos socorridos, quase morremos, estávamos em 8 pessoas, foi muito sofrimento, muitos sem casa, sem nada, só DEUS. Lembro aquela nuvem preta em cima do céu e a chuva caindo, de repente se ouve um estrondo e tudo estava desabando.” Por Neusa Antunes.


O tocante relato a seguir foi escrito pelo senhor Lycurgo Barbosa Querido na época do ocorrido.

De mãos dadas
Em todos os tempos sempre houve rivalidades entre as pequenas cidades do interior. Cidade vizinha é cidade concorrente no progresso e em tudo. O bairrismo dava a impressão de maldade, de malquerença entre irmãos.
Agora, com essa desgraça que caiu sobre Caraguá é que fomos ver que, no fundo, não havia nada.
Ao contrário, as gentes se gostam, os interesses estão muito lá em baixo, nas profundezas do coração defeituoso dos Homens. 
Ubatuba e São Sebastião foram os primeiros a correr aflitos, angustiados, ante o infortúnio dos seus irmãos de Caraguá.
Lágrimas copiosas vinham lavar generosamente os corações aflitos.
A solidariedade, tão espontânea, parecia a brisa fresca da tarde tentando amenizar o Sol causticante do terror.
As desgraças passam, e o amor continua.
Coisas da vida…

Lycurgo Barbosa Querido – 24/03/1967



Nesta foto vemos a impressionante imagem de um homem resgatando uma criança que estava ilhada em meio à catástrofe, ele era o pai do Fabiano Bulgarelli, que enviou a foto.

Traga sua história para ser contada! Digitalização de fotos, vídeos, áudio, documentos, recortes de jornais, gravação de depoimentos, cartas, etc.
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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente

13 thoughts on “Tromba D’água em Caraguatatuba – Março – 1967

  1. Eu me considero um milagre de Deus pois na época da tromba d’água de 67 em Caragua eu tinha apenas 4 meses de vida, meus pais me perderam por um semana e hoje eu agradeço a Deus pela vida porque pelos relatos de meus pais já falecidos e as reportagens desta data mostram que foi muito difícil a situação!

  2. Meu tio José Luís de Castro, junto com smigos de Aparecida. foram pelo mato levar ajuda para sua irmã Idair e prima Herminda, sobrinha Sandra e amigas, sgua, comida e consolo, viu muitos mortos muita tristeza e dor, a cidade amada Caraguatatuba estava destruída, água morte..

  3. Minhas tias wueridas Herminda de Castro e Idair Marida de Castro Andrade amiga Cida Assis Braga eram professoras lá em Caraguatatuba, minha irmã Sandra Helena de Castro pequenininha estava lá,de férias foi colocada junto com o filho José Júlio Braga da amiga Cida Assis, muita tristeza, tragédia, amoooo Caraguatatuba

  4. não sabia da existência dessa catástrofe, fiquei bastante tocado pelas pessoas que viviam ali naquela época. gosto do muito de caraguá sou frequentador da cidade e até penso em me mudar para la futuramente!

    1. Realmente, uma grande catástrofe, e tenho para breve mais uma matéria enriquecida em detalhes sobre o ocorrido.

  5. Meu pai morava na fazendo dos ingleses, ajudou a salvar muitas pessoas,mas também viu muitas vidas soterradas pra sempre, contava essas histórias com lágrimas nos olhos, pelo conhecidos que se foram, dizia ele que Caraguá inteira era um gigante cemitério, muita gente e histórias soterradas, ele ficou abalado com a tragédia e se mudou pra São José logo depois desse ocorrido.

      1. Oi boa noite que bom ler esta matéria no ano que aconteceu tudo isso eu tinha 2 meses de vida morava lá en Caraguatatuba nasci na maternidade Estela maris 27 01 1967 meus pais mim falaram que foi muito difícil tudo isso meu pai também ajudou meu pai sim chamava Manoel batista Ribeiro mãe Maria de souza ribeiro

    1. Eu ainda era uma criança, morávamos no ultimo Bairro da Fazenda dos Ingleses, lá só viamos água, mas indo ate a cidade com meu pai vi o horror de tudo que estamos vivendo…
      E quando meu decidiu que voltaríamos pra nossa SJC., a serra era um mar de lama, os homens ancoravam o ônibus contra o precipício e as mulheres dentro choravam e rezavam…
      Talvez seja essa a razão de gostar tanto de Caragua, pois a vi renascer e foi lá que vivi minha infância e fui muito feliz.

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