Uma fã de corpo inteiro (1968)

Aquela histeria surgida na época da beatlemania se espalhou pelo mundo, “atingindo” artistas de todos os continentes, e claro que o Brasil não ficaria de fora. O relato abaixo é sobre uma joseense que ia onde os artistas estavam; no Teatro Record. Em sua intensidade cometia loucuras pelos astros da música. Direto das página da Revista Intervalo de 1968.

A FÃ, SUAS ALEGRIAS E SEUS DRAMAS; A IDOLATRIA SEM LIMITES, AS MANIAS, OS ÓDIOS. AS PREFERÊNCIAS DE QUEM PASSA A MAIOR PARTE DO TEMPO NUM AUDITÓRIO DE TV. UMA FÃ DE CORPO INTEIRO, ENFIM. É ISSO O QUE VOCÊ ENCONTRARÁ NAS PÁGINAS SEGUINTES EM NARRAÇÃO DE JOÃO MAGALHÃES

Carmem Lígia é uma das muitas fāzocas que lotam o auditório do Teatro Record de São Paulo nos dias do Jovem Guarda e outros programas. Dos 17 anos que tem, os últimos três, passou a maior parte de seu tempo nas emissoras de TV. Não sabe explicar o porquê de sua tara por artistas. Diz apenas: Fico vidrada. Assim, como se estivesse super emocionada. Não sei o que me dá na cabeça. Na hora que vejo os caras tenho vontade de pular no pescoço deles. Só dois artistas não entram no time de Carmem.


Mini saia, cabelo esticado, corpo de criança, dentes muito brancos, ela explica tudo: Não gosto do Ronnie Von e dos Vips. Ronnie é escamoso, com aquele seu jeitinho e aquela cabeleira de mulher. E os Vips são simplesmente nojentinhos, com cara de quem comeu e não gostou. O que Carmem não conta é que o empresário de Ronnie prometeu-lhe uma surra, numa época em que ela resolveu perseguir o Príncipe. Mas a vontade a que Carmem se refere teve seu auge num dia em que ela viu Erasmo Carlos sozinho. Colada ao Tremendão, suplicou: Erasmo, deixa eu te dar uma dentada? Erasmo, pensando que era brincadeira, concordou. A fāzoca não perdeu tempo. Nhac! Tirou-lhe um pedaço da calça, hoje um dos mais valiosos troféus de Carmem. Colega, você ainda vai passar no Canal 4? Colega é o tratamento comum entre todas as fãzocas. Quando elas se juntam, combinam toda a trama para o programa do dia, compram entradas na mesma fila, provocam algazarra quando o artista não é bidu. Isso, na linguagem delas, é o artista certo, que canta bem e dá aquela emoção. Nesse caso estão Wilson Simonal e Jorge Ben. E Roberto? Roberto é só para a gente fazer bagunça, diz Carmem, pra nós ele está por fora. Mas nem por isso eu deixei de andar no Impala dele, quem me arranjou foi o seu cunhado Luís Carlos. Este é o irmão de Nice Rossi, a noiva de Roberto, e secretário particular de Paulinho de Carvalho, diretor da TV Record.

O ídolo acima de tudo.


Carmem fala muito, é irrequieta, não para de mexer na saia e na bolsa. Tira uma nota de cinco cruzeiros novos, mostra. É pra eu ir pra casa hoje e voltar amanhã. Às 10 h da noite de um domingo, depois do Jovem Guarda, ela ainda está nas imediações do Teatro Record, paquerando os artistas retardatários. De repente, se lembra: Preciso ir, senão meu pai me mata. Carmem Lígia é uma garota pobre, vive com os pais numa casinha da rua H, 103, em São José dos Campos. Tem mais sete irmãos, todos lutam muito para viver.

Estudante de enfermagem e estagiária no Hospital das Clínicas de São Paulo, ela viaja 100 quilômetros todos os dias, às vezes só com dinheiro da condução. Até já passou uma semana sem almoço e jantar. Mas, tudo isso não tem muita importância para Carmem, a fãzoca. O importante é estar numa das primeiras filas do Teatro Record, gritando pelos seus ídolos e jogando restos de flores deixados por um outro tipo de fãs, as simplesmente admiradoras, mais privilegiadas do que Carmem Lígia.

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Wagner Ribeiro – São José dos Campos Antigamente

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