Veloso, o prefeito seresteiro

Muitas passagens pitorescas marcaram a vida de Elmano Ferreira Veloso, como prefeito, fiscal de rendas e seresteiro. Quem não o conhecia bem, podia até achá-lo fechado, de pouca conversa. Pelo contrário, era uma pessoa muito alegre e divertida. Tinha sempre uma boa tirada, de arrancar risos dos presentes.

Como violonista e compositor, começava pelo nome que dava as suas composições: “Vai na frente, que depois eu vou”, “Prenda o cachorro que o cachorro é bravo”. Durante um ensaio do conjunto regional “Os Seresteiros ao Luar”, que o acompanhava em suas apresentações pelas emissoras de rádio, ele apresentou uma nova composição, um chorinho. Perguntado pelo nome da música, ele respondeu que tinha feito no dia anterior e que, portanto, ainda não tinha nome. Logo o pandeirista Blecaute atalhou: Quer dizer, “seo” Veloso, que o chorinho ainda está na casca do ovo. E Veloso prontamente adotou o nome para a sua composição: “Na casca do ovo”.

Como prefeito, era muito querido pelos servidores municipais. Veloso reunia costumeiramente todos os servidores, independente do cargo ou função, para um almoço de confraternização no final do ano. Aliás, ele dizia, quando disputou as duas eleições de prefeito: “A gente precisa sair ganhando de casa!” E ele sempre foi vitorioso entre os servidores municipais. Naquele ano, no entanto, no almoço de confraternização anual que se realizava no Asilo Santo Antônio, alguma coisa de diferente estava por acontecer. Veloso olhava preocupado para o funcionário José Toledo, que estava exagerando na bebida e comentava baixinho: “Isto não vai acabar bem!”. Lá pelas tantas, o Zé Toledo não aguentou e esvaziou o estômago em cima da mesa. Veloso levantou-se e bradou: “Eu já sabia que o Toledo ia dar esse vexame! Vamos embora, acabou o almoço!”

O funcionário municipal Ângelo França fez um bom trabalho de levantamento da dívida ativa do município. O prefeito Elmano Ferreira Veloso, em vista disto, decidiu lançar um elogio no prontuário funcional e oficiou ao funcionário dando-lhe os parabéns pelo trabalho executado. No mesmo ofício, Ângelo respondeu a Veloso: “Agradeço, mas elogio não enche barriga! Seu fiel servidor, Ângelo França!” Ao receber de volta o seu oficio e deparando com a resposta do funcionário, Veloso exclamou: “Como é malcriado esse Ângelo!”

Um dos segredos do bom administrador, que foi Veloso, estava nos finais de tarde. Ele chamava o Caetaninho, o seu motorista, e saíam pela cidade, parando sempre quando encontravam algum problema. Veloso fazia questão de ouvir atentamente os moradores. Anotava tudo e seguia em frente. No dia seguinte, logo pela manhã, chamava o Romeu Clauss, responsável pelo Departamento de Serviços Municipais, e passava as recomendações para as prioridades do dia. E lá seguiam os servidores municipais resolvendo todos os problemas, por ele anotado no dia anterior. E os moradores ficavam maravilhados: “O “seo” Veloso esteve ontem aqui e hoje já estão tapando os buracos, vejam só!”

Outro segredo de Veloso é que sempre consultava o tesoureiro antes de tomar alguma decisão que implicasse em despesa. Se a recomendação do setor técnico da Prefeitura era no sentido de aguardar melhor oportunidade, não hesitava, ia logo informando o vereador ou quem estivesse solicitando as providências de que não seria possível, naquele instante, atender o pedido.

O seu cumprimento tornou-se marca registrada: “O’ mestre, como vai?” E aos mais chegados, quando a situação não ia bem, dizia: “Tem um pau voando, que vai cair no primeiro que bobear!”
Luiz Paulo Costa – Jornalista

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